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Parem o Mundo, que eu quero descer


Sou um jovem nascido e criado no século XXI, filho da escola pública, esta que é uma instituição em que acredito, que acredito ter potencial, que espero ser para sempre, para a qual olho com animação e felicidade por existir, embora haja dias (e até semanas inteiras às vezes) em que não me apetece sequer pensar em lá entrar. Ao entrar agradeço, agradeço pela oportunidade que nos é dada a todos de lá estar e por saber que enquanto dentro daqueles muros valemos todos o mesmo, embora saiba que à saída não somos de todo iguais, cada um com a sua história, a sua família, as suas dificuldades ou possibilidades financeiras.

Infelizmente acredito que o caminho que fazemos até casa, como o fazemos e porque o fazemos é um reflexo do determinismo que vivemos, angustia-me chegar a casa e saber que o meu colega que foi enlatado no autocarro até casa para poder ficar a tomar conta dos irmãos ou a fazer uns biscates aos pais, que se esforça, que soa, que grita, que chora, que sofre, terá de o fazer até ao fim dos seus dias e que o também meu colega que, embora partilhe a carteira com o primeiro, é apanhado pelos pais de carro à porta da escola para poder ir para casa jogar, ou que pode ir sair com amigos, terá sempre assegurado um certo nível de vida consideravelmente superior ao do primeiro.

Peço-lhe que não me interprete mal, caro leitor, eu não pretendo que o meu colega mencionado em último lugar tenha um nível de vida igual ao do primeiro, eu só queria apresentar uma queixa relativamente à falta de manutenção de um certo aparelho mecânico. É que o nosso elevador social está parado, estagnou, não mexe. Os que estão no rés do chão lá permanecerão e os do rooftop também lá permanecerão, o mundo em que vivemos não cria oportunidades tornando a meritocracia puramente um mito.

E a mim, a nós, jovens, cabe-nos lutar por tudo, mas com moderação, porque se incomodarmos já estamos a ser inconvenientes que não sabem o seu lugar. Se ficarmos quietos, somos uns preguiçosos, uns hipócritas que tudo querem e nada fazem. Se mostrarmos desinteresse por política, somos desnaturados e imaturos, uma geração perdida, um “Sabe-se lá onde irá parar este país”. Se por outro lado já mostrarmos interesse por política dir-nos-ão que só estamos lá para o “tacho”, ou que provavelmente nos prometeram alguma avença.

Aos jovens da minha geração acabo com um apelo, se no meio dos exames, das frequências, do código e das aulas, da crise na habitação, da crise climática, do excesso de qualificações que terão para o baixo salário a receber, das greves e do desemprego jovem arranjarem algum tempo livre para pensar, não se ocupem com os meus queixumes, leiam um livro, vão correr, vão ao cinema, vão fazer um piquenique na praia ou vão ver o pôr do sol, mas coloquem a vossa saúde mental em primeiro lugar. Eu que penso já não ter volta a dar, e citando a personagem Mafalda criada por Quino, grito “Parem o mundo, que eu quero descer”.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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