Politécnicos estão disponíveis para receber estudantes afegãs, que poderão ter acesso a reforço de emergência de bolsas de estudos


O Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) manifestou já às entidades oficiais portuguesas disponibilidade para acolher estudantes afegãs, disse esta quinta-feira à Lusa o presidente daquele órgão, considerando tratar-se de uma questão humanitária e de direitos humanos.

“Acompanhamos de uma forma muito concordante o apelo do Presidente Jorge Sampaio”, afirmou Pedro Dominguinhos quando questionado pela agência Lusa sobre a posição defendida pelo ex-Chefe de Estado para alargar a estudantes afegãs o programa de bolsas de estudo inicialmente criado para apoiar estudantes sírios.

O responsável pelo CCISP revelou que há 10 dias manifestou ao ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, e a outras entidades, nomeadamente a plataforma de apoio aos estudantes oriundos de zonas de conflito, a disponibilidade das instituições de ensino para acolher mais estudantes, face “ao problema humanitário e de direitos humanos que o Afeganistão está a viver”.

“Manifestamos todo o empenho neste acolhimento para que essas estudantes possam ter alguma esperança no seu futuro”, acrescentou o presidente do CCISP, remetendo o encaminhamento da questão para o foro diplomático.

 

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio anunciou que a Plataforma Global para os Estudantes Sírios, a que preside, está a preparar um reforço do programa de emergência de bolsas de estudo e oportunidades académicas para jovens afegãs.

Num artigo publicado esta quinta no jornal Público, Jorge Sampaio fez um apelo a todos os parceiros da Plataforma, às entidades oficiais, às instituições do ensino superior, centros de estudos e investigação, bem como empresas, fundações, outras organizações e particulares, para que colaborem mais, disponibilizem apoios, oportunidades académicas e profissionais, estágios e vagas para jovens do Afeganistão.

Jorge Sampaio lembra que o programa de bolsas de estudo para estudantes sírios, com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens para trás sem acesso à educação, foi lançado em 2013 pela Plataforma Global para os Estudantes Sírios. “Entretanto, a Plataforma foi alargando o seu âmbito de atuação para além da crise síria, e hoje trabalha na criação de um Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino Superior nas Emergências (RRM). Neste contexto, está agora a ser preparado, para além de um reforço do programa de bolsas para estudantes sírios, libaneses e outros, um programa de emergência de bolsas de estudo e de oportunidades académicas para jovens afegãs”, adianta.

No artigo, o antigo Presidente da República sublinha que não se pode responder às crises humanitárias “ao sabor de modas e ignorá-las por razões de cansaço, enfado ou indiferença”.

 

“A crise síria no Iémen, no Haiti, no Tigray, no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália, em Cabo Delgado ou a atual situação no Afeganistão, para citar apenas alguns exemplos, atingem homens, mulheres, jovens e crianças com a mesma gravidade, igual força e idêntica desesperança”, salientou.

Jorge Sampaio lembra também que a experiência dos últimos sete anos com a integração de estudantes sírios tem mostrado ser duplamente benéfica para os estudantes e para as comunidades de acolhimento que desta forma se renovam, dinamizam e reforçam o seu potencial criativo e produtivo.

“E mesmo que assim não fosse, nunca seria demais recordar que a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos — ‘Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade’”, refere.