Não sabes exatamente como aconteceu, que motivos te fizeram decidir que querias ir viver cinco ou dez meses noutro país. Pode até ter sido uma decisão repentina, mas a verdade é que essa decisão que ao início tanto incomodou a tua mãe, converteu-se numa realidade.
E aí estás tu. Assinas o contrato do programa de mobilidade que vais fazer e do quarto em que vais ficar e que tanto trabalho deu a encontrar.
Fazes a tua primeira máquina de lavar, organizas o teu novo quarto, começas a cozinhar com maior frequência e a tua vida dá uma volta de 180º.
Conheces tanta gente que é impossível decorar tantos nomes, participas nas primeiras dinâmicas de grupo e, setembro parece um mês em que a tua vida social não pára! Começas a tentar perceber quem serão os teus melhores amigos, mas na verdade o que procuras é encher os espaços que deixaste para trás. Procuras comparações e similitudes que preencham esses espaços que ficaram em Portugal.
Começas a sair cada vez mais da tua zona de conforto e aproximas-te de pessoas que te parecem tão diferentes de ti. Começas a fazer planos que nunca imaginarias, como sair à noite a uma segunda feira ou começares a explorar talentos escondidos e para os quais “nunca tiveste tempo”, quando estavas em Portugal.
Até que um dia acordas e deixas de perguntar “onde estou?”, começas a sentir-te em casa. Nunca te tinhas sentido tão feliz por saíres da tua zona de conforto.
Houve algo curioso que aprendi ao conhecer tanta gente diferente: todos temos a nossa história, mas os motivos que nos levaram ali, quase sempre convergem. Poucos fazem ERASMUS por casualidade. Todos fugimos de algo ou procuramos alguma coisa que nunca encontrámos. Todos temos um espaço a preencher e se há algo que une os estudantes de ERASMUS é precisamente a vontade de preencher esse espaço…
Fazes inúmeras viagens e pensas nos sítios que vais ver, nas fotos que vais tirar e nos pratos típicos que vais provar, mas acabas por te dar conta que tudo isso é o menos importante. As viagens são o “instrumento oficial” do ERASMUS para estreitar vínculos. Nesses momentos, dois dias são suficientes para ganhares a confiança de alguém (ou para perdê-la). E isso dá-te vontade de viajar cada vez mais.
Tudo é incrível.
E o tempo passa a correr…
E de repente falta um mês para tudo terminar, apercebes-te que não voltarás a viver uma experiência igual, nem estarás novamente com a maioria daquelas pessoas. Apercebes-te que o comboio vai partir e que não voltará a parar naquela paragem. Pelo menos da mesma forma. Percebes que c’est fini. Acabou.
Entendes que a pessoa que entrou naquele avião em setembro, não é a mesma que vai regressar no final. A pessoa que regressa de ERASMUS é uma nova versão de si mesmo, uma versão que não existia e claro que isso tem os seus prós e os seus contras.
Antes de vir um amigo disse-me: “Por favor, não vás de ERASMUS! Porque eu também nunca devia ter ido. Não devia ter tido de escolher sentir saudades de tudo o que ficou para trás. Mas foi, sem dúvida, a melhor decisão da minha vida.”
E é aí que a expressão: “Once ERASMUS, always ERASMUS.” ganha cor e que entendes que tudo valeu a pena.
Artigo inspirado em Por qué nunca debí haberme ido de Erasmus.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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