“Praxis”: documentário do que não deve ser a praxe ou reprodução fiel?

No fim de 2011 surgiu a curta-metragem “Praxis” da autoria de Bruno Moraes Cabral e que não deixou indiferentes os movimentos pró e anti praxe. Um documentário tornado agora público e para uns é “o que não deve ser a praxe”, enquanto que para outros não passa de uma “reprodução fiel”.

Podes visualizar aqui o filme, reforçando o alerta inicial de conter cenas com linguagem sexual explícita:

https://www.youtube.com/watch?v=FJHVbIare3k

“Em 90% do tempo, é um documentário sobre o que não deve ser a praxe, quase tudo o que vi é proibido na Universidade de Coimbra.” Foram estas as de declarações ao P3 na altura de João Luís Jesus, dux veteranorum da academia coimbrã. Referia-se, por exemplo, de praxes que põem os caloiros a rebolar no chão ou na lama: “Aqui é proibido qualquer actividade que suje o caloiro”.

Por outro lado, Ricardo Alves, do Movimento Anti Tradição Académica (M.A.T.A.), declarou que “o realizador filmou apenas o que deixaram, não há entrevistas nem comentários; é uma reprodução fiel e está dentro daquilo que se conhece das praxes”.

 

Contexto político

O documentário surgia numa altura em que a praxe estava na ordem do dia. No final de 2011, o Bloco de Esquerda tinha proposto um projeto que recomendava ao Governo a adopção de medidas para desencorajar as praxes violentas e apoiar os alunos vítimas dessas práticas. A maioria PSD/CDS-PP acabaria por chumbar a ideia.

No seguimento do rescaldo do debate gerado pela morte dos seis estudantes no Meco, esta ideia acabaria por ser implementada, tendo neste ano letivo a sua segunda edição.

 

 

“O desejo de obedecer hoje para comandar amanhã”

Declarações do realizador ao P3 em 2012.

 

O realizador Bruno Moraes Cabral andou por 19 faculdades, passado pelas universidades de Aveiro, Beja, Coimbra, Évora e Lisboa, durante três meses. Em todo o lado encontrou as mesmas brincadeiras, as mesmas palavras de ordem e os mesmos jogos. Descreve que o sentimento latente é que “independentemente de tudo o que me aconteceu, de bom e de mal, no próximo ano vai ser a minha vez”.

Sempre que chegava a uma faculdade, Bruno Cabral dirigia-se aos “doutores” e pedia autorização para filmar. O pedido foi quase sempre aceite – “Houve uma ou outra vez em que pediram para voltar noutro dia, em Évora só pudemos filmar uma vez e a noite de Coimbra foi mesmo barrada, disseram-me que nem imaginava o que podia acontecer”, referiu ao P3.

A interpretação de Bruno Moraes Cabral partiu de uma observação “quase sociológica”, sem conceitos previamente definidos. O documentário valeu-lhe o prémio de melhor curta-metragem no Doc Lisboa em 2011.

 

“Temos o direito de ser humilhados”

O documentário foi exibido algumas vezes em instituições de ensino superior, seguido de um debate. O realizador remete no vídeo recentemente publicado para estas declarações em que alguns estudantes defendem que a humilhação serve para a integração na universidade e na vida ativa. O debate decorreu na Aula Magna, em Lisboa:

 

Acabamos com os dois lados com que começamos. Será este documentário apenas um retrato do que não deve ser a praxe ou é uma reprodução fiel? Será hoje a praxe diferente devido a alertas deixados quer por documentários como este e outros acontecimentos recentes? Deixa o teu comentário!