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Primeiro para sempre

Pela manhã, há frio e Escadas Monumentais por subir. O cheiro a pão fresco vindo d’ “A Universidade”, café do arranque dessas, invade narizes de quem também sobe. O pão não é tão doce como o do Algarve. O Tentugal lembra-me o pastel de batata-doce.

A calçada vive habituada a ser esfregada pelas capas negras, que elevam o sensacionismo de quem passa, e de quem passa e não entende porque é turista apenas e, mesmo não entendendo, grava em fotografia;

as paredes, a serem acordadas ora por cânticos de praxe, ora por tunas, ora pelo fado;

as mãos, a suportar o peso das pastas;

 

o plástico dos copos a rumar finos e traçadinho à boca.

Grande parte das estradas que também te fazem são de sentido único, tal como tu em quem te escreve.

A Cabra fende o preto da noite e das capas pelo branco efervescente que projeta e se derrama no Mondego, o das cheias, das correntes onduladas e das confissões de quem o sonha e poetiza.

As suas badaladas são agora o que, outrora, me foram gaivotas-despertador.

 



O átrio da Sé Nova é palco de contacto com quem o mesmo sente e aspira: gente que se aperta, se abraça e berra; gente que ontem foi anónima e não sabida, e que passou a um tanto, indestrutível.

Há falta do sal e da rocha preta, escarpada, que adorna a praia Vicentina;

da gente que me fez e da que me deu sede de ser mais.

Ainda assim, há o não querer ir dentro do querer.

Não me acordem, não me peçam para ir, quero ficar.

E, se o saudosismo alvejar,

tragam-me a amendoeira, tragam-me o mar.

Tragam-me a omnipresença,

apesar da crença

no valor da distância.

Cidade! Dás-me sede que não se enxuga.

Se, antes de te viver, por palavras te ousei retratar,

hoje, que te vivo, não o sei fazer.

Sou de letras.

Ainda assim,

letras são vãs para te descrever.

Serei gaga quando me pedirem para de ti falar, e, de olhos lúcidos, responderei:

não há forma mais plena de expor aquilo que és, senão a do saber ao que sabes em ti estando.

Acabo este meu texto lírico,

que em nada demonstra o que são os dias de estudante nesta cidade,

aproveitando para citar o mais recente e espontâneo comentário do meu colega Pedro Silva:

“-Epá, olhem para esta cidade, isto é lindo, porra.”

 

Coimbra,

Aqui fica o meu primeiro obrigada e o meu primeiro quero-te para sempre.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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