Com a chegada do novo ano letivo, a preocupação da praxe renasce mais uma vez. Este é o mês de primazia da receção dos novos estudantes, que chegam ao ensino superior, com o desejo de serem integrados na nova comunidade educativa, da qual começam a fazer parte.
Apresentam-se quatro programas alternativos à praxe, que se engastam na base de ideias de integração.
Cria’ctividade é uma semana de integração alternativa à praxe, que surge de um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra (UC) que decidiu criar atividades que demonstrem “outra Coimbra” aos novos estudantes. Preocupando-se com a receção dos mesmos, estes têm como atividades a organização de concertos, filmes, jantares comunitários e workshops.
O ISCTE-IUL também constituiu um programa alternativo, que tem como objetivo organizar equipas de cinco estudantes, de diferentes licenciaturas, para a escolha de um tema, com posterior investigação do mesmo e com a elaboração de um projeto. O tema terá necessariamente a ver com a comunidade educativa em que se inserem, como desenvolvimento social, Portugal no mundo, sustentabilidade e ambiente, aldeia global e quotidiano universitário.
A Universidade Católica, mais especificamente a Lisbon School of Business & Economic, proporcionou aos novos estudantes uma alternativa, que consistiu na visita solidária aos campos agrícolas da Golegã. Pretensiosamente pretende alertar para o combate do desperdício alimentar. Já desde 2009 mantém esta atividade, que depois deu origem ao projeto “Pensa.Come”.
A FCSH também tem um espaço de integração denominada AlternAtiva criado também como forma de integração de novos estudantes, que pressupõe a integração dos mesmos a partir de conversas, de atividades descontraídas, música, que se realizaram entre os fins de tarde ou pela madrugada fora.
Pretende-se com os programas alternativos à praxe que se desenvolva a receção dos novos estudantes com o intuito da concertação de um programa que lhes traga o desenvolvimento de temas que puxem à consciência social, que em nada se encontra patente no sistema hierárquico, naturalmente, criado em torno da praxe.
A praxe hoje oferece aos nossos estudantes um sistema de iniciação ao ensino superior que se caracteriza por jogos, “brincadeiras” com comidas, o impedimento de “olhar nos olhos”, com a subjugação do “olhar no chão”, banhos em fontes públicas, e entre outras atividades, que são apoiadas e sustentadas por algumas comunidades educativas, quando lhes foi pedido que informassem os estudantes de que a mesma não era obrigatória, e que incitassem à criação ou apoio de programas alternativos.
Aquilo que se pretende é o término da praxe, com um desenvolvimento de debates importantes de iniciação ao ensino superior, através de atividades livres na comunidade educativa, que paralelamente estejam a criar uma sociedade informada.
Enquanto sobrevalorizarmos na praxe, uma ideia que muitos estudantes têm, que “aprendeu” alguma coisa nela, e que no futuro vai passar esses “ensinamentos” aos próximos “caloiros”, estamos a criar um conceito alienado da realidade.
Sim, o espaço alternativo à praxe deve nascer da necessidade de criar uma ponte para uma sociedade mais empenhada, ativa e interventiva, que carece de programas que constituam algum intuito na formação de jovens com sentido crítico.
Este deve ser o debate e o centro fundamental de ação na ideia de receção dos novos estudantes.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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