À primeira vista, Catarina Braz Ferreira aparenta ser uma pessoa determinada, que traça bem os seus objetivos e alcança os sonhos sem quaisquer percalços. No entanto, é mais um dos exemplos de quem ingressou na faculdade no momento errado, na licenciatura errada. De Lisboa partiu para Guiães e, a quatro meses das colocações da 1ª Fase do Ensino Superior, acredita que, desta vez, não se enganará.
Iniciou o 10º ano em 2012 e, estando indecisa quanto ao seu futuro, optou pelo curso profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos. Contudo, não se integrou corretamente, sentindo que o plano curricular não a estimulava. Alguns dias depois, pediu transferência para Ciências e Tecnologias, mas Matemática A dificultou-lhe a conclusão do Ensino Secundário, que demorou quatro anos a completar. Não desistindo, Catarina ponderou quais seriam as suas opções ao nível da candidatura ao Ensino Superior e Gestão Turística foi o curso eleito. No entanto, foi parar a Solicitadoria, a licenciatura prima de Direito, a área em que chegou a imaginar-se mas que não escolheu porque não realizara o exame de História A.
“Quando percebi que estava a estudar por obrigação e não por gosto, comecei a entender que aquele não era o percurso adequado para mim… Quando ouvia os meus colegas a conversar entusiasticamente sobre notícias a respeito de política…. Sabia que era um tema interessante, mas não o encarava com o mesmo entusiasmo” e a isto aliava-se a falta de entusiasmo pela maioria dos conteúdos lecionados nas aulas. Para Catarina, o ser humano é o objeto de estudo a que se quer dedicar e, as emoções, o aspeto do mundo que mais paixão lhe suscita.
Há poucos meses, a sua vida mudou radicalmente: decidiu congelar a matrícula de Solicitadoria e deixar as salas do ISCAL (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa) para trás, rumando até à pacata freguesia de Guiães, onde residem pouco mais de 400 habitantes. Com dezanove anos, pretende candidatar-se a Psicologia na UTAD: “Quero ajudar os outros a ultrapassar as suas dificuldades, a superar os maus momentos; ser aquela que lhes fornece as ferramentas para mudar a sua vida, transformá-la… Não sei explicar mas… Aquilo que mais desejo é fazer com que todos percebam quem são e levá-los a compreender a importância que têm neste mundo, a marca que deixam…”, explicou-nos, enquanto se ouvia a pequena prima Leonor a cantar. “Expressá-lo por palavras é difícil neste momento com a minha prima a inventar músicas horríveis”, disse, rindo-se.
“O solicitador é um gestor de interesses Jurídicos, economicamente relevantes, de forma não litigiosa, sendo sua marca o saber resolver”, pode ler-se na página oficial da antiga faculdade da nossa entrevistada. Quem a conhece, sabe que as capacidades associadas a um bom psicólogo, tais como a autorregulação emocional, a criatividade e a antecipação na apresentação de soluções promotoras de valor para as organizações ou a atitude constante de aprendizagem e humildade face ao saber são-lhe muito mais inerentes que o exame de processos ou a passagem de certidões, tarefas de um solicitador.
“Agora estou a estudar para fazer três exames e poder pedir a transferência de curso” – de facto, a jovem não se encontra sozinha. O regime de “Mudança de Par Instituição/Curso”, para a Direção Geral do Ensino Superior, pode ser somente “o ato pelo qual um estudante se matricula e ou inscreve em par instituição/curso diferente daquele(s) em que, em anos letivos anteriores, realizou uma inscrição, podendo ter lugar com ou sem interrupção de matrícula e inscrição numa instituição de ensino superior” mas, muitas das vezes, é a salvação de estudantes que se encontram perdidos e, para Catarina Braz Ferreira, será a materialização dos seus sonhos: “Aquilo que desejo é que tudo corra bem, quero entrar a porta da faculdade sem quaisquer pressões… Psicologia é algo que vivo já, com grande ansiedade, imagino todas as matérias que me irão passar pelas mãos e cresce em mim um grande entusiasmo!”, rematou alegremente.
No ano letivo anterior, existiu apenas uma vaga na UTAD no regime mudança de par/instituição para a licenciatura em Psicologia. Agora, resta esperar que, se a tendência se mantiver, o lugar esteja reservado para esta jovem cuja etimologia do termo Psicologia assenta que nem uma luva: estudo da alma.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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