Bem, por onde começar? Olá, sou a Leonor, e vou contar a minha história, na esperança que ajude alguém.
Sempre fui boa aluna, nunca dei preocupações aos meus pais e decidi-me cedo num curso a seguir. O meu percurso no secundário não teve atribulações, tive boas notas, alguma ansiedade, mas nada fora do normal. O tempo foi passando e chego ao final do 12.º ano sem problemas.
Ora, mesmo antes dos exames, tenho o primeiro gosto de perda de entes queridos. Não seria a última nesse ano, mas o suficiente para me destabilizar. Faço os exames à mesma e concorro à faculdade, acabando por entrar na minha primeira opção! Apesar de, antes da ida para a nova cidade ter tido outra vez uma perda que me abalou, fui contente para o curso, ansiosa pelos desafios que me esperavam.
Ia às aulas, voltava para casa e estudava, mas não me sentia lá muito bem. “Oh, mas toda a gente se sente assim, anda para a frente”, e assim o fiz. Contudo, não importava o meu esforço, não conseguia resultados satisfatórios nas avaliações, o que me desmotivou um pouco, mas deu-me razões para me esforçar ainda mais.
Ora, em dezembro desse ano, sobrevivo a um acidente, uma situação de vida ou morte, mas penso que consigo encarreirar com o curso. Aliás, o curso era a distração perfeita para o que se tinha passado! Tentava estudar e não conseguia reter a matéria, tinha flashbacks, ataques de pânico. Não conseguia dormir e quando conseguia adormecer, eram horas de ir para as aulas. Sentia-me tão desmotivada que eventualmente deixei de comparecer às aulas, na ilusão que conseguia estudar sozinha em casa (NUNCA, mas, NUNCA, faltem às aulas só porque querem dormir um pouco!). Dormia horas a fio, mas ficava acordada de madrugada, pensando que era normal.
Apesar de tudo, estava envolvida em algumas atividades extracurriculares, que me davam prazer, mas os ataques de pânico eram cada vez mais frequentes e desapareci durante uns tempos. Contudo, depois de algum tempo, retomei as atividades, e tentava aparecer mais vezes às aulas.
Passei um ano nisto, e, apesar de todo o meu esforço, fiquei com inúmeras cadeiras para trás, que me deixou de rastos. Então tinha estado a dar o meu melhor e não consegui o mínimo que me era esperado? Esse verão foi de muita reflexão e decidi dar-me uma segunda oportunidade: inscrevi-me às cadeiras que tinha reprovado, assim como algumas do 2.º ano, para tentar compensar o tempo perdido.
Uma lição importantíssima que aprendi foi que se não estamos bem mentalmente, tudo que façamos será impactado pelo nosso mal-estar mental: “mais vale burro vivo que doutor morto”. Ora, eu continuava com ataques de pânico, flashbacks, crises de depressão, mas acreditava que estava bem. Afastei-me da minha família, dos meus amigos, convencida de que estava tudo normal. Spoiler alert: não estava tudo bem, estava tudo bastante mal. Continuava a dormir os dias, a alimentar-me mal, a fugir da realidade. Isto eventualmente tinha de parar (e parou).
Em janeiro, estava a estudar para os exames e atingi o meu breaking point. Estava farta de estudar para um curso que descobri que não gostava, e era tempo de parar de me tentar enganar. O maior drama nem foi decidir que não queria mais aquele curso, foi mesmo ganhar coragem de contar aos meus pais. “Mas e se eles se passarem?”, “ai, já gastei 2 anos, será que vale mesmo a pena?”, entre mil e outras questões que me passaram pela cabeça. Balelas, que tive sorte e não houve drama em querer sair do curso.
Isto levou à segunda questão: “o que é que vou fazer agora?” comecei a ver empregos, e, na altura, inscrevi-me na secundária em aulas para me propor a exames nacionais. Eventualmente mudaria de ideias e deixaria de frequentar as aulas, tendo-me decidido num curso a frequentar. Não deixo de reforçar que tudo isto foi feito sempre com acompanhamento profissional, de psicólogo e psiquiatra.
Agora? Acabei de entrar num novo curso, estou empolgada pelo início das aulas (coisa que não sentia há muito tempo), e com uma saúde mental muito melhor da que tinha há 2 anos.
Se não tirarem nada deste relambório, tirem isto: nenhum curso vale mais que a vossa saúde, seja ela física ou mental. Se não estiverem bem psicologicamente, é muito mais difícil passar por quaisquer desafios. Se se reviram neste texto, não tenham medo de pedir ajuda, somos humanos, não máquinas de guerra. Se tiverem a possibilidade, procurem ajuda profissional. Falem com os vossos amigos, família, tratem da vossa saúde mental. Não é por não vermos que o flagelo não é real, tratem bem os vossos cérebros.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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