Quando as mentes são “quadradas”


Olá Uniareano!

É verdade que já há bastante tempo que não escrevia um artigo. Não foi falta de vontade, a azafama do dia a dia obriga-nos a colocar sempre prioridades acima dos nossos hobbies, mas cá estou mais uma vez com um texto que espero que te surpreenda e faça refletir.

Eu finalmente posso intitular-me de “Almost a Vet nurse”, já terminei todas as unidades curriculares do curso e já me encontro em estágio final a desenvolver uma investigação. Este estágio atual não foi o único pelo qual passei, já estive numa clínica e também num centro equestre e não pude deixar de reparar na mentalidade da população em geral para com os estudantes que “fogem à regra”. É verdade que a associação de veterinário a uma clínica é algo natural e demasiado comum, mas será que um veterinário só pode desempenhar as suas atividades em clínicas e hospitais?

-Não!!

Não pude deixar de reparar na admiração das pessoas face ao meu local de estágio final de curso. As questões imediatamente colocadas foram, “Mas o teu lugar não deveria ser numa clínica?”, “O nosso curso dá-nos essas habilitações?” …

E ao ter uma conversa com alguns amigos que já se encontram no mercado de trabalho e consequentemente noutros países pelo mundo fora, percebi que este estigma e esta mentalidade eram apenas portuguesas. E comecei a pensar no que poderia fazer para melhorar as condições dos veterinários deste país e foi então que através de um fórum reuni um grupo de pessoas já formadas e a exercerem a profissão em Portugal, que tal como eu, já tinham tido esta perceção e todos concluímos que precisávamos de uma ordem, um órgão que nos defendesse e lutasse pelos nossos direitos e condições de trabalho. Para o nosso espanto, ninguém se dignou a responder ao nosso pedido de ajuda. O que eu sinto é que em Portugal desvaloriza-se a educação e os valores e valoriza-se a estupidez e a corrupção. É lamentável ter tido conhecimento de casos de veterinários que abandonaram a sua profissão de sonho porque não conseguiam pagar as suas contas e recebiam um ordenado mais alto num call- center. Eu acho isto inconcebível, lidamos com vidas animais diariamente, trabalhamos por turnos, por vezes mais do que 10 horas por dia, queimamos pestanas e neurónios durante todo o curso e no final ninguém reconhece o nosso valor. Deixa-me triste e desanimada, até porque não é apenas o salário que importa, mas sim o esforço não recompensado que todos os dias colocámos sobre nós para salvarmos as vidas daqueles animais que nos chegam num estado lastimável e que queremos a todo o custo ver sair pelo próprio pé com a cauda a abanar. Eu não idealizo salários milionários, mas é triste viver num país em que não há valorização nem qualquer reconhecimento ou entidade capaz de nos ajudar a exercermos as nossas profissões de forma digna e sobretudo com direito a uma recompensa justa.

Porque motivo um jogador de futebol ou um cantor, tem mais reconhecimento que um veterinário, um médico ou mesmo um bombeiro?

Não há equidade salarial nem mesmo justiça a este nível. Já para não salientar as condições péssimas de trabalho que a maioria dos profissionais têm. Se formos a comparar com os países nórdicos ou londrinos, a realidade é totalmente oposta. E os políticos que deviam governar o país de forma justa e cuidada ao invés de o roubar e afundar a olhos vistos ainda vêm para os meios de comunicação social afirmar que os jovens emigram, que as taxas de natalidade estão diminuídas e que Portugal é um “país de velhos”. Só o é porque assim quiseram que fosse.

Por exemplo, na Noruega um enfermeiro veterinário é imensamente valorizado e reconhecido. O bem-estar pessoal de um trabalhador é colocado acima de qualquer coisa, a remuneração mensal é 8 vezes superior à nossa, não há qualquer admiração por parte das pessoas quando têm conhecimento que um enfermeiro não está a fazer clínica, mas sim a trabalhar em investigação, em bancos de sangue animal, em parasitologia ou patologia médica. E isto deve-se à mentalidade aberta dessas pessoas que lhes permite serem mais cultas, criativas, exploradoras e mesmo enriquecedoras e fundamentais para os avanços da medicina veterinária.

Nunca se esqueçam que são as pessoas que fazem o mundo e ditam as suas regras, não se entreguem a um sistema que só sabe formar robôs com codificação específica criados para serem escravizados, desvalorizados e apenas com um propósito “Enriquecer os corruptos”. Lutem pelos vossos sonhos, arrisquem e sobretudo não se sintam mal por serem uma “ovelha fora do rebanho”. O mundo é de todos nós e cada um tem os seus talentos, os seus gostos e deve segui-los até ao fim ao invés de serem escravos infelizes de um sistema que em alguns países só serve para aumento da corrupção e desgraça alheia.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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