Não sei. Às vezes ponho me a pensar… e não chego a conclusão nenhuma. Penso e pergunto-me se será ou não este o caminho. Se é este o percurso que me vejo a fazer pela vida. Todos os dias me convenço disto. De que é por aqui. Mas a firmeza do meu consciente grita tanto que as voltas que eu dou não me levam a outro lado que não este. Sufoco a cada dia um bocadinho mais. E imagino mil e uma personalidades e vontades que não tenho. Mas que poderia ter. Se outrora, tivesse tomado outra decisão. No fundo, quero acreditar que ainda podem ser parte de mim. Convenci-me e convenci os outros de que está tudo bem, de que os dias correm e de que esta foi a decisão certa. A vida está a fazer-se. Ainda que não me faça feliz. Mas disso, ninguém sabe. Sei eu. Sabem vocês agora que o disse. Não me sinto no direito de dizer, a poucos passos de terminar o curso “Pai, Mãe, à dois anos e meio atrás, no grande momento da candidatura, cada um de vocês tinha desenhado o meu final feliz. Escolhi um outro caminho, teimosa, convenci-vos de que era o certo. E agora, tudo o que sinto é uma enorme vontade de voltar atrás. A esse ‘submeter’.” Não me sinto nesse direito porque sei que eles investiram. E não os que quero a pensar que investiram em vão.
Estou a tirar um curso do qual tenho certeza, que retirarei muito boas coisas para o meu futuro. Todas as aprendizagens me deixaram mais rica. Toda a experiência me está a fazer crescer numa área onde me sentia mesmo pequenina. E vou acabá-lo! Consciente de que dois anos de qualquer curso onde antes o sentia como profissão futura, não são definitivamente em vão. Algures no tempo, era ali que me sentia viva e por muito que as vontades mudem, essa primeira, vai fazer sempre parte de mim. É uma experiência que levo para a vida. Quando for tempo de o acabar, vai chegar aquele ‘submeter parte II’ onde eu tenho que voltar a pensar em escolhas, em decisões, num futuro, e não posso falhar. Porque tem de existir esse momento, em que eu vou ter de lhes dizer que o próximo passo não é um Mestrado, uma Pós Graduação ou um eventual primeiro trabalho. Tem de existir esse momento, em que eu vou ter de lhes dizer que estes três anos me fizeram crescer, mas que o meu caminho não é por ali. Estou a tirar Artes Performativas e Tecnologias. O meu pai apontava para a gestão. A minha mãe, eu nunca soube bem. Sei que decidi apresentar-lhes o mundo do espectáculo porque a soma de todas as artes me chamou à atenção. Hoje ainda chama, mas sei que não quero ser isto 24 horas por dia. Entro todas as manhãs numa sala de aula diferente e já não suporto ver professores com teorias diversas sobre a arte. A arte de actuar. Do momento. Da expressão. A arte do contemporâneo e do singular. Do tecnológico e do performativo. Já não suporto ver que todas as cadeiras ao meu lado se iluminam de certezas e de caminhos cobertos de um amor enorme pela arte de representar. Não os censuro, foi o futuro que desenharam para as suas vidas. Mas não é o meu. Sinto-me frustrada por não conseguir encontrar a minha “vocação” com a garra e a facilidade com que cada um deles o fez. Parece que não me conheço o suficiente tanto quanto eles. E invejo-lhe isso. Saio da faculdade e não encontro sinais. Afinal, para o mundo cá fora, “ela está a amar!”. Procuro experiências idênticas a esta minha e todos me dizem “no momento certo, tu vais saber”. Pois bem, que esse momento não leve mais três anos! E no fundo, bem lá fundo eu sei que não vai levar. Há sempre qualquer coisa que nos puxa com mais força, um pequeno trilho que não estava “à vista desarmada”. O trilho mais difícil de se ultrapassar. O trilho do nosso futuro. Que me assusta, mas que tenciono enfrentar. O lugar das certezas, dos sorrisos, dos desejos, das respostas. O meu lugar. Sobrevivi dois anos e meio. Existi dois anos e meio. Não os sinto vividos. E sinto-me na obrigação de sobreviver este meio último, ou pelo menos de existir neste meio último, com a certeza de que a escolha não era esta. Mas é, de certa forma, o “peso” a carregar por uma má decisão. E por enquanto suporta-se. Afinal, para se serve o hábito? Para o ano não sei. Talvez este meu consciente até saiba. É uma decisão em processo. (a progredir!) Sim, penso que as ideias se estão a clarear. Adoraria conseguir explicar-me melhor. E acredito que amanha estarei mais viva. Porque no fundo, neste caminho eu ainda não me sinto a viver. E até lá, existo. Mas existo na certeza que na vida, nada nos chega em vão e tudo se vai desenrolar. Com mil e uma aventuras pelo meio, mas eu vou conquistar esse meu final feliz. E vou vivê-lo como nunca em nenhum outro momento desta jornada vivi. Segura de que esse ‘submeter parte II’ foi a melhor decisão da minha vida, segura de que uma segunda licenciatura não é sinal de que falhei antes. Certa de que todas as experiências nos alimentam e de que esse futuro vai definitivamente estar mais rico. Mas é preciso ir buscar essa coragem e deixar que ela me leve consigo até ao dia em que eu me sinta capaz de dizer “Sim, estou a amar! Era mesmo isto”! Porque todas as grandes conquistas exigem tempo!
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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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