Sei bem o que sentes neste momento, e não, não te preocupes, é normal. Todos os pontos de interrogação que estão a surgir na tua mente, neste momento, farão parte do difícil processo que vais passar nestes longos meses entre o estudo para os Exames Nacionais e ingresso no Ensino Superior.
Em confinamento, em março, comecei a pensar na minha entrada no Ensino Superior. As minhas certezas começaram a transformar-se em dúvidas em apenas alguns dias. Na verdade, chegamos a um ponto de impasse quando somos confrontados pela realidade e percebemos que chegou a hora de assumir uma grande responsabilidade que culminará numa escolha que será espelho do teu futuro.
No meu caso, sempre tive o sonho de estudar direito. Pensei que nunca iria sentir o poder da indecisão que os meus colegas estavam a sentir na escolha de uma área, já que estava convicta de que sabia exatamente aquilo que queria. Não tinha antecedentes familiares que trabalhassem na área, nem sequer sabia do que se tratava com clareza, mas algo me chamava para o curso que estou a descobrir hoje.
As minhas primeiras dúvidas começaram a surgir quando estudei psicologia no 12º ano. A curiosidade e o mistério em torno da mente humana era, na verdade, algo que me cativava a querer saber mais e mais. Sabia que se escolhesse psicologia provavelmente estaria interessada o tempo todo na matéria e que seria uma mais-valia, visto que é para tal que serve um curso. Deves estar a perguntar-te, então porque é que escolheste direito? A resposta é simples: escolhi direito porque aprendi a ouvir-me. Sabia que a minha intuição estava a gritar enquanto estava distraída no meio da confusão dos se’s e dos porquês. É normal haver dúvidas, como também é normal poderes ter interesse em outras áreas. Isso não significa que tenhas que abdicar de uma para estudares outra. Hoje estudo direito, mas continuo a ler sobre psicologia, sem deixar de matar a minha curiosidade na área. É até necessário haver áreas fora da tua rotina que te possam interessar e enriquecer enquanto pessoa e estudante.
Nesta fase é muito importante que peças conselhos a outros estudantes, sem quaisquer medos. Pedi-os diversas vezes, essencialmente a estudantes de Direito que mesmo não conhecendo, me ajudaram a tomar uma decisão, porque sabiam melhor que ninguém, o quão difícil era estar nesta posição. Uma destas pessoas a quem recorri, fez-me perceber que não devemos escolher baseados em questões de curto prazo, mas de longo prazo, isto é, perguntares-te a ti próprio se te vês a praticar o que eventualmente queres estudar, no futuro. Gostava de psicologia, mas não me via a exercer como psicóloga por toda a vida. Sabia que acabaria por ser, eventualmente, uma escolha condenada caso seguisse uma questão de curto prazo só por considerar “interessante”.
Quando tomares a tua decisão nunca a tomes baseada na expectativa de que terás dinheiro e prestígio com uma profissão que nem gostas assim tanto. Vais acabar por te arrepender, desde logo ou futuramente, da escolha que fizeste ainda no curso e posteriormente na tua vida profissional, porque entenderás a velha máxima de que dinheiro não traz felicidade (e Direito é um curso com muita porta de saída para as pessoas que foram com esse pensamento). Hoje em dia, já nem é seguro considerares que tal profissão te vai proporcionar uma vida confortável porque o mercado de trabalho está saturado, e podes, eventualmente, ter o azar de ficares desempregado na área. O que realmente importará no mercado de trabalho, será o poder de destaque no meio de tantos e tantas pessoas que estudaram o mesmo que tu.
Se te sentes incapaz de escolher porque achas que não consegues aguentar a pressão, ou é demasiado difícil, não deixes que isso te influencie. Ouvia diversas que direito era um curso difícil, exigente, e que ponha os alunos a chorar diariamente. Hoje em dia, percebo que esse medo que senti, que quase me fez desistir, foi inútil. É exigente, sim, mas não é um “bicho de sete cabeças”! Se houver muita organização e disciplina consegue-se ter tempo para estudar e fazer outras coisas de que gostas. A dificuldade não estará no curso em si, mas no modo como o encaras. Na realidade, todos os cursos serão difíceis, se não te interessares pelo que estudas, e fazeres de tudo uma obrigação. Será fácil se te mantiveres entusiasmado e feliz por estares onde estás e a estudar o que estudas, mesmo que venham a existir períodos de grande nervosismo e pressão. Terás de fazer, na tua escolha, uma mediação de questões a curto prazo, que envolvem o interesse no curso, e de questão a longo prazo que evolvem a profissão futura. Só através deste equilíbrio chegarás à tua decisão final, mesmo que ainda te deixe apreensivo/a.
Não tenhas medo de tomar uma decisão se a tua intuição o leva para lá. Se acabares eventualmente, por não gostares da tua decisão, nada estará perdido! Terás sempre oportunidade de refazer o teu caminho. Se isso implicar perder um ano da tua vida, não te aflijas! Será melhor perder um ano da tua vida do que toda ela numa área em que és infeliz. Nunca tenhas medo de arriscar, porque poderá levar-te para o caminho certo.
Colabora!
Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
Gostavas de publicar um texto? Colabora connosco.