Rumo (0 – 1) Decisão Errada


É mesmo isto! Perder o rumo por uma decisão errada. Estranha a forma como nos sentimos quando, por uma pequena decisão, a nossa vida muda e fica numa situação de “não retorno”, que nos mata aos poucos.

A minha história tinha tudo para correr bem, mas quantas e quantas histórias tinham tudo para correr bem e correram mal? A minha é, lamentavelmente, mais uma, mas, sendo minha, dói-me… e que dor que me causa!

Sou apenas uma jovem estudante, que tinha toda uma vida de sucesso idealizada e que hoje se reflete em tristeza e desânimo. Acabada de me licenciar e com o objetivo de continuar a estudar, pensei em apostar numa área diferente, sentia dentro de mim que era hora de arriscar e focar todas as minhas energias num outro percurso. Candidatei-me a dois mestrados: o que continuidade da licenciatura e aquele para arriscar. Entrei nos dois! Escolhi inscrever-me no mestrado fora da minha área de conforto, um mestrado muito conceituado, bem falado, com tendências crescentes no mercado e na procura, com cadeiras atrativas, com ótimas oportunidades e… entrei! Que sonho! Estava a conseguir tudo aquilo que tinha idealizado, sentia-me vitoriosa.

Hoje, quase no final de um semestre, sinto-me derrotada, a mais derrotada de sempre! Como se fosse um combatente que decidiu vir para casa a meio da batalha, decidiu baixar os braços por não ter força, por estar com medo e confuso quanto ao final.

O curso que era atrativo, passou a ser desinteressante. As cadeiras que abordavam temáticas do meu interesse, passaram a abordar temáticas aborrecidas. O espírito crítico e capacidade de argumentar e fundamentar com base nas disciplinas que estudo, desapareceram, comparativamente ao espírito e capacidade que tinha na licenciatura. Sinto que não sei nada do que estou a abordar, por muito que estude, então questiono-me: “para que é que estudo?”. É como se a informação fosse um ciclo de vento, que entra a 100km/h, mas não armazena porque não interessa, desmotiva, causa repudia e, por isso, sai a 200km/h. E este é um ciclo que acarreta consigo a tempestade: a tempestade emocional, a depressão, a tristeza, a constante vontade de chorar, o medo, a desilusão.

Questiono-me imensas vezes: “Por que raio me inscrevi neste mestrado?”, a verdade é que eu tinha feito inúmeras pesquisas, falado com coordenadores, com alunos e ex-alunos. Das duas uma: ou eu estou no sítio errado e realmente é tudo como eles falaram, ou então pintam cenários rosa em vez de negros.

Sabem como me sinto? Profundamente triste. E ainda mais triste por saber que estou assim por uma decisão que foi minha, exclusivamente minha. Podem pensar:” Ah, então porque é que não desistes?”. Respondo-vos que desistir neste momento não é solução, até porque teria implicações em vários níveis. Mas se fizessem ideia da carga emocional desgastante que carrego comigo diariamente… não desejo a ninguém. Não me lembro da última vez que me ri genuinamente, nem da última vez que me senti feliz, realizada, orgulhosa de mim. Eu era o “top 10” dos melhores alunos de uma licenciatura, hoje se sou o “top 10”, sou-o dos piores alunos de mestrado e não é por não haver esforço, dedicação ou por não querer. Mas sim, porque existem coisas que não nos estão realmente destinadas.

O processo de aceitação é difícil. Fazem ideia quantas vezes a questão “O que é que vais fazer agora?” interrompe os meus pensamentos? Imensas! E se vos disser que a minha alternativa inicial para lidar com tudo isto era dormir? Pelo menos a dormir não pensava no assunto. Acordar tornara-se um pesadelo.

Aos poucos e poucos, aprende-se a lidar com situação. Mentaliza-se que falta só mais um semestre e que no próximo ano se muda de área, para aquela que sempre me deixou feliz e na minha zona de conforto, para aquela que sempre investiguei, tive curiosidade e espírito crítico: a da minha licenciatura. Aprende-se que nem sempre arriscar pode ser a melhor solução, que nem tudo é rosa, que há dores que vêm por bem.

Este ano? Um ano “perdido”. A jovem que aos 22 anos poderia estar com um diploma de mestrado na mão, não vai estar. Nasce, entretanto, uma que o vai carregar com 23 anos e, certamente, uma jovem bem mais crescida, realizada e feliz.

Esta é a batalha que travo, diariamente. Hoje desarmei-me. Amanhã, coloco a armadura para voltar ao combate das aulas, dos exames, dos trabalhos. Amanhã coloco a espada para tentar matar todos os sentimentos negativos que me assombram. No fim de semana desarmo-me e finjo que anda tudo bem. No próximo ano, deito os equipamentos de guerra ao lixo, porque já não vou precisar de lutas constantes. No próximo ano serei feliz!

E o que aprendi realmente? Que quem não arrisca, não petisca! Mas que para arriscar bem, há que petiscar primeiro!

Colabora!

Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

Gostavas de publicar um texto? Colabora connosco.