Ser de português é ser muita coisa. É ter em si mesmo o prazer de ensinar, ensinar não a ler nem a escrever, mas sim a sentir a beleza das palavras.
Ai as palavras… Ser dono do dialeto, ser algo mais que um cidadão que domina a língua da pátria, ser algo mais do que “apenas falar”.
Ajudar a compor, a manobrar as figuras de estilo, ser capaz de ir mais além do que está escrito.
Ser de português é convidar a subjetividade para tomar café diariamente, brincar com ela e, mais importante de tudo, explorá-la.
É ir ao encontro das palavras pronunciadas e junta-las ao acaso, mas mesmo assim com um propósito.
Ser de português é ter uma relação íntima com as antíteses, andar de mãos dadas com elas.
Ser de português é saber sentir cada palavra e associa-la a um sentimento.
Ser de português significa ter a coragem necessária de sentir a palavra “saudade”, de saber usá-la quando necessário e nunca a deixar morrer. É ir ao dicionário as vezes necessárias para que nunca uma palavra caia em esquecimento, ou em reforma de uso.
Ser de português é usar palavras estranhas como “monocórdico” e “concomitantemente”; é saber espantar e surpreender os alheios com o nosso vocabulário, deixando-os na dúvida e fazê-los pensar o que significa certa palavra.
Ser de português é dominar a arte da escrita, é saber jogar com uma caneta e um papel. É saber expressar-se não por desenhos ou melodias mas sim pela coisa que, por tão banal que seja, caia em esquecimento, ou seja, pelas letras, vogais, consoantes…
Ser de português é saber por a pontuação no seu lugar, ser o chefe desse exército composto por vírgulas; reticências; pontos finais, exclamativos e interrogativos; aspas; travessões; acentuação.
Ser de português é tentar ter na mente a história do dialeto declamada, é ser um monte de poetas e trovadores ressentidos e obscuros, é ter na alma a verdadeira noção de linguagem.
Ser de português é ser muita coisa, é ter em nós mesmos a capacidade de fazer com que a nossa língua não entre em desuso.
Fora isso, ser de português é ser um poeta oculto que vive com a garra de poder ser tanto com o uso de tão pouco.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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