Apenas 10% dos filhos de famílias mais pobres e sem qualificações consegue alcançar o Ensino Superior. A conclusão é de uma análise do Banco de Portugal (BdP), presente no Boletim Económico de Maio.
O relatório, que se baseia em dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento de 2019, feito pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Eurostat, em vários países, mostra que “a situação financeira condiciona a progressão nos percursos escolares em todos os países” analisados.
“A percentagem de indivíduos que consegue completar o ensino superior é sempre maior quando a situação financeira era boa do que quando era má, para cada nível de educação dos pais”, lê-se.
Segundo o BdP, “Portugal é um dos países em que o impacto da situação financeira sobre os percursos escolares é mais acentuado: quando se tomam os indivíduos cujos pais tinham até ao 9.º ano, apenas 10% alcançaram o ensino superior quando a situação financeira era má, o que compara com 27% quando a situação financeira era boa”.
“O papel da situação financeira não aparenta ser tão determinante nos escalões superiores de escolaridade dos pais”, observa o organismo no mesmo documento, ilustrado com a tabela abaixo.
O Bdp sublinha ainda que “a transmissão intergeracional da educação, reforçada pela interação com a situação financeira das famílias, tem implicações importantes nos percursos educativos, na inclusão social e no potencial de crescimento económico”.
“Tal como reportado em Eurostat (2021), a taxa de risco de pobreza nos adultos cujos pais alcançaram uma educação até ao 9.º ano ascendia a 17,1% em Portugal, o que contrasta com 6,8% nos adultos cujos pais tinham uma educação superior”, refere.
Para a instituição, “esta evidência reforça a importância de compreender os mecanismos de transmissão intergeracional da educação, de modo a desenhar políticas públicas que potenciem as oportunidades para todos”, conclui.