O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática diz-se muito preocupado e lamenta que os alunos deste ano estejam em desvantagem em relação aos que fizeram o exame da disciplina no ano passado. João Araújo defende, por isso, que o Ministério do Ensino Superior tome medidas para evitar injustiças criadas por uma situação que já se previa.
“Estes números não me surpreendem porque quando vi o enunciado disse logo que as médias iam baixar, este exame era bastante mais difícil do que o exame do ano passado. Com o exame do ano passado, a nota que se repetiu mais foi 19 valores. Isto preocupa-me imenso porque deixa em desvantagem os miúdos deste ano que vão concorrer com os miúdos que se vão candidatar de novo, com as notas do ano passado e estão em grande desvantagem”, explicou João Araújo.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática não duvida que vai haver um número elevado de alunos com médias muito altas que vão tentar mudar de curso e pede, por isso, a criação de mais vagas nas universidades.
“Quantas vão ser não sabemos, quem sabe exatamente é o Ministério da Ciência e acho que, quando virem os resultados das candidaturas, vão logo ver o que se está a passar e como poderão resolver o problema. É uma expectativa, confio que o Ministério está completamente a perceber o problema e vai tomar as medidas necessárias. Já fizeram isso no ano passado e muitíssimo bem. Espero que este ano façam o mesmo”, afirmou o responsável pela Sociedade Portuguesa de Matemática.
Questionado sobre se as queixas dos reitores sobre a falta de meios e espaço não impedem a criação de mais vagas, João Araújo reconhece que esse é o outro lado do problema.
“As propinas desceram imenso. No fundo foram, em três anos, reduzidas a 50%. Isso pôs uma imensa pressão sobre os reitores que, naturalmente, usam todos os argumentos para reivindicar mais meios, recursos, mais tudo, e estão cheios de razão”, acrescentou João Araújo.
Notas altas nos exames caem a pique. Alunos com 19 e 20 valores são menos 70% do que no ano passado
As médias altas e o número de alunos com com 20 valores nos exames, que o ano passado tinham dado um pulo gigantesco, desceram de forma igualmente considerável e regressam àquilo que costuma ser a normalidade nos exames nacionais. O número de estudantes que consegue as notas mais elevadas cai 70% em relação a 2020. Este ano, só 907 alunos conseguiram alcançar um 20 e 3.738 conseguiram chegar ao 19. Os dados são do Júri Nacional de Exames, divulgados pelo Ministério da Educação.
Num ano em que 20 disciplinas viram as médias cair, a queda não seria tão acentuada se passássemos uma esponja no ano 2020, quando os exames tiveram regras muito diferentes das habituais para se adaptarem à pandemia: alunos com aulas à distância, alunos sem meios para ter aulas à distância, programas que não foram cumpridos e a pressão psicológica de um confinamento. Assim, se a comparação fosse entre os valores de 2021 e os de 2019, apenas 8 médias desciam, 13 subiam e 1 ficava igual. Para Espanhol (continuação) e Mandarim não há dados que permitam fazer a análise.
No total, num ano em que o IAVE tentou criar exames que não permitissem notas demasiado altas, 4.645 estudantes conseguiram alcançar as duas notas mais elevadas nas provas nacionais. Há um ano, tinham sido 15.550, ou seja, houve um decréscimo de 70%. Desses, 3.477 foram classificados com 20 valores. Mesmo em relação a 2019 — a última vez que as provas foram feitas com as regras habituais — o número é mais pequeno. Nessa altura, 8.486 alunos tiveram as duas notas máximas (2.557 conseguiram 20 valores e 5.929 tiraram 19).
Matemática A é um desses exemplos. O ano passado mais de 6 mil alunos conseguiram tirar as notas mais elevadas no exame: 1.399 terminaram o exame com 20 valores e outros 4.628 estudantes foram pontuados com 19. Este ano, a queda é vertiginosa com quase menos 75% de estudantes a conseguir chegar ao topo. Apenas 217 foram pontuados com 20 valores e 1.312 com nota 19.