Universidade da Beira Interior (UBI), instituição de ensino superior português situada na Covilhã, em Portugal., 6 setembro 2017. ANTÓNIO JOSÉ / LUSA

UBI: entre contradições e (des)respeito pelos estudantes


4 dias: é o período que separa as informações contraditórias e altamente prejudiciais aos estudantes do Magnífico Reitor da Universidade da Beira Interior.

Inicialmente, a 21 de janeiro, aquando do anúncio das novas medidas de confinamento resultante da pandemia que vivemos, somos informados via e-mail, pelo Magnífico Reitor de que “(…) A época de exames do 1º semestre é adiada para data a seguir à Páscoa; (…)”. Os estudantes não foram ouvidos, a sua Associação Académica também não. Como se podem tomar estas decisões destas de forma tão unilateral?

Ora, a UBI é uma universidade cuja maioria dos estudantes vive nas mais diversas regiões do país, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores, além, claro, dos estudantes internacionais que escolheram a UBI como seu porto de saber e conhecimento. Evidentemente, um estudante que esteja deslocado (tal como eu), longe da sua casa e da sua família, face à informação de que não terá exames nas próximas semanas, vai a casa. É, obviamente, despendido algum dinheiro nestas deslocações (nalguns casos, bastante dinheiro), que por vezes pode ser escasso e requerer alguma ginástica financeira e sacrifício, ainda mais na altura sensível em que vivemos. É bem verdade que não há nada como ir a casa, e nesta altura tão difícil poder estar reunido com aqueles de quem mais gostamos é essencial para a nossa saúde mental (tema com o qual a UBI parece não se preocupar muito).

Voltando às contradições do Magnífico Reitor: passados quatro dias, a 25 de janeiro, já muitos de nós no conforto dos nossos lares, nas nossas terras, bem longe da Covilhã, somos confrontados com uma nova informação, desta vez que “(…) os exames de época normal do 1º semestre decorrerão nas datas inicialmente previstas [1 a 8 de fevereiro] no calendário escolar. (…) Nos casos em que tal [avaliação online] não seja possível, as avaliações podem decorrer presencialmente nestas datas ou ser agendadas para data posterior.”[1] É assustador não haver um critério para distinguir o que se pode fazer online ou não, recaindo essa decisão exclusivamente no corpo docente. Muitos professores (de vários cursos), face a isto, começaram a informar os seus alunos de que os seus exames seriam presenciais.

Ora, com tantos estudantes de regresso às suas casas, porque se volta atrás na palavra de forma tão abrupta? Novamente não fomos ouvidos: de que serve ter estudantes nos órgãos consultivos da Universidade se não temos opinião nestas decisões? A reitoria ou não pensa em nós, que damos vida à UBI, ou não conhece a própria realidade, ou prefere ignorá-la. Qual das três opções é mais grave, não sei…, mas todas são sinal de desprezo pelos estudantes. Não fosse já isto grave o suficiente, que consequências de saúde pública podem surgir desta deslocação em massa de estudantes do país todo para a Covilhã, para realizarem exames presenciais? Adicionalmente, numa espécie de surpresa desagradável e sem justificação aparente, foi-nos retirada a época de recurso e substituída pela época especial no final do 2º semestre.

Não conformado com toda esta situação, em conjunto com colegas e amigos, alguns residentes nos Açores e Madeira, onde se encontram agora, decidimos agir. Em adição aos excelentes comunicados da Associação Académica (AAUBI), onde existem propostas que conciliam a mitigação do risco de propagação da Covid-19 na comunidade académica com o respeito pelos estudantes, decidimos lançar uma petição online (https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT105741), atualmente com mais de 750 assinaturas de estudantes que tal como nós se encontram revoltados, mas acima de tudo, desapontados com uma universidade que nos devia proteger e ajudar e não prejudicar. Face a toda esta situação as medidas que propomos são:

  • A Época Normal de Exames ser calendarizada para o período entre os dias 8 e 19 de fevereiro, evitando prejudicar os estudantes que suspenderam o seu estudo por consequência da informação incorreta do Senhor Reitor;
  • Reposição da Época de Recurso para o período entre os dias 22 de fevereiro e 5 de março;
  • As atividades de avaliação previstas para as épocas normal e de recurso decorrerem em modo distância, mitigando o risco de propagação de Covid-19 na comunidade académica da UBI e cidade da Covilhã, causado pela movimentação de estudantes de todo o país e ilhas para a Covilhã;
  • Em determinadas situações excecionais, em que dada a especial natureza das unidades curriculares não seja possível adotar a avaliação a distância, deve ser submetida à apreciação do Reitor proposta fundamentada para realização da atividade de avaliação presencial;
  • Reposição da Época de Recurso do 2º semestre.

A única coisa que pedimos e, na verdade, exigimos é sermos ouvidos e respeitados. Somos nós quem dá vida à Universidade e devemos ser tratados como tal. Agora, aguardamos na dúvida de como tudo será, de como seremos avaliados e como faremos as cadeiras que ainda temos para fazer? Há demasiadas perguntas sem uma resposta concreta e verdadeiramente defensora dos interesses dos estudantes desta instituição e da saúde pública. Quando é o que o medo de fraude académica se tornou mais importante que a saúde de todos nós?

[1] In Despacho Reitoral N.º 2021/R/12

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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