A Praxe não é fascista


Quando se fala de Praxe há sempre alguém pronto para dizer que é fascista. Alguém que diga isto nada percebe de Praxe nem de fascismo. Aliás, dizer que a Praxe é fascismo é também nada perceber de história e da importância que teve enquanto instituição para as lutas estudantis contra o Estado Novo que influenciaram o espírito revolucionário contra a ditadura. Acima de tudo, é um insulto àqueles que lutaram contra o fascismo envergando as capas negras em protesto, de Coimbra a Lisboa, sendo enviados para a guerra do ultramar como consequência pela sua desobediência.

A Praxe é um dos poucos sítios, mesmo hoje em dia, em que igualdade de oportunidades é plenamente realizada. Quando se veste o traje e se integra uma comissão apenas o respeito pela tradição, pelos caloiros, pelos colegas e pela instituição que representam importa. Não interessa a cor da pele, não interessa a orientação sexual nem o estatuto socioeconómico, quer do caloiro quer do trajado. Isto é o oposto do fascismo, em que existe segregação por estas características e em muitos casos perseguição pelas mesmas. Na Praxe compreende-se que estes atributos não são relevantes e que existe uma ligação mais profunda entre as pessoas que aquela estabelecida pelas suas características superficiais. Ninguém é julgado e todos são aceites.

A medida de um trajado é equivalente ao seu contributo, e o seu contributo é avaliado pela qualidade da Praxe que dá a um caloiro. Quem pensa que a hierarquia de uma comissão representa poder absoluto e determina totalmente o funcionamento da Praxe nunca chegou sequer perto de a integrar. Aqueles que procuram poder, adoração e subjugação dos mais vulneráveis são facilmente colocados de parte, independentemente da sua hierarquia. Apenas alguém que julga de fora a Praxe podia ter a ideia de que a aparente rigidez é inviolável.

Se em tempos houve ostracização daqueles que escolhiam não integrar a Praxe, o fenómeno começa hoje em dia a ser ao contrário. A perceção estabelecida pela comunicação social é negativa, e essa facilmente se instaurou como a ideia geral da sociedade. Neste momento pertencer à Praxe resulta num julgamento imediato, numa associação a uma ideia de desejo de fazer mal e sede por poder que é nada mais que uma caricatura. Quem está de fora vê apenas um aglomerado de gente consumida pelo poder de gozar com caloiros. De certa forma, percebe-se que seja essa a imagem que as pessoas têm. Houve maus momentos no passado da Praxe. No entanto, não são mais que momentos singulares, e a generalização atual que define toda a tradição da mesma forma vil e abusiva é errada e perigosa.

Por detrás do traje estão pessoas como todas as outras. Não existe característica nenhuma em especial que as una além do amor pela tradição académica e vontade de dar uma experiência incrível a novas gerações de estudantes. Na Praxe há pessoas de esquerda, pessoas de direita, comunistas, anarquistas e sociais democratas. Nada disso importa no fim, pois cada trajado coloca de lado as suas diferenças em nome de algo maior e mais antigo. Na Praxe não existem ideologias, muito menos fascismo.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

 

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