Foto de Nelson Garrido @ Público

Apadrinhar? Para quê?

Acabas o teu ano de caloiro e passas a ser doutor. Mais um ano que vem, mais um período praxístico… mas desta vez diferente. Passas de aprendiz a professor. Não no sentido exacto da palavra mas a verdade é que agora és um exemplo ao invés de procurares exemplos. Tens a tua ideia de praxe formada, tens os teus objectivos, tens as regras para seguir e procuras alguém para transmitir pontos de vista, para trocares ideias, criar uma opinião positiva, passar o legado. Procuras um afilhado.

Mas… para que servem exactamente?

Tens a oportunidade de apadrinhar. Tantas opções existentes e tão poucos aqueles por quem te interessas. É engraçado eles terem atitude e fazerem umas besteiras quaisquer. Sabe bem apadrinhar um garoto que sabes que te vai obedecer e fazer de tudo para estar ao pé de ti. A maior parte dos apadrinhamentos resumem-se a isto: período de praxe intensivo, depois fica tudo amigo e chega-se (mais tarde) à conclusão que não passou disso.



 

Na verdade, um afilhado funciona como um filho. E tudo isto se torna mais fácil quando realmente gostas da pessoa e acabas mesmo por te sentir responsável por ela. Perdes anos de vida a tentar explicar a um puto que chega do secundário o que é a praxe, o que é a universidade e que, para que possa viver tudo ao máximo, deve tornar-se numa pessoa regrada. Os padrinhos sofrem. As madrinhas choram. Tudo isto se deve ao excesso de expectativas. É algo demasiado importante no mundo universitário, é um investimento incomparável. Sim, eu sei que a maior parte acha demasiado exagerada esta “obcessão”. Talvez seja, mas é saudável.

O tempo passa, aliás, como tudo. O teu trabalho está finalmente acabado. No fim, as alegrias e as desilusões dependem da forma como lapidaste o teu “diamante”. Espero que tenhas dado uma noção correcta do que é a praxe, que tenhas mostrado a tua cidade ao novato e que lhe tenhas confidenciado os seus pequenos mas sábios segredos. Espero que te tenhas divirtido muito com ele (sim, porque um dos mitos é dizer que doutores e caloiros não são amigos e não se divertem juntos) e que tenhas aprendido qualquer coisa também.

Agora arrumas o traje e, obviamente, passas o legado. Esperas o melhor para o teu filhote. Desengane-se quem acha que a praxe só é dura para os caloiros. É verdade, os doutores

também sofrem à medida que o tempo passa. Um gajo deu tanto que acaba por não saber o que fazer depois disso. Uns arranjam outros para ensinar tudo de novo. Eu cá acho que isso já é trabalho dos descendentes. Em breve serás avô, em breve serás esquecido… ou não.

 

Se cumpriste bem o teu papel e se realmente ajudaste na construção de algo, vais estar sempre presente nas pequenas coisas. Se foste um bom padrinho ou uma boa madrinha, vais ser sempre um exemplo para os mais novos, vais perceber que foste um bom doutor. Há algo melhor do que isso?

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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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