O novo currículo da Escola de Medicina da Universidade do Minho: MinhoMD


A Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM-UM), já conhecida pelo seu método de ensino inovador, iniciou há cerca de dois anos uma Reforma Curricular (aka uma mudança do currículo). Esta mudança vai de encontro ao que já acontece nas escolas médicas de excelência de todo o mundo e é, ao mesmo tempo, necessária, pertinente e essencial para os futuros médicos.

O processo iniciou-se após uma reunião geral com todo o corpo docente, onde se concluiu que, se a EM-UM quer formar médicos mais humanos, comunicadores, versáteis, gestores e competentes, existe a necessidade de inovar e criar um plano de estudos que prepare os médicos para a medicina do futuro.

Foram então definidas uma missão e uma visão: preparar os estudantes de medicina para serem médicos excelentes, em 2050 e adiante, e ser a escola médica mais criativa e inovadora da Europa, na década de 2020.

A ideia da reforma curricular foi avante e nela trabalharam docentes, ex-alunos e atuais estudantes do Mestrado Integrado em Medicina na EM-UM, desde janeiro de 2018. Juntos, estabeleceram as seguintes orientações gerais para o novo currículo, intitulado MinhoMD:

 
  1. Os alunos devem conseguir fazer o curso ao seu próprio ritmo, seja ele mais rápido ou mais lento;
  2. Os alunos são responsáveis pelo seu próprio currículo, ou seja, devem ter a liberdade de escolher diferentes percursos. Isto é importante porque permite que cada um trabalhe melhor as suas áreas de interesse, aumentando a variabilidade, diferenciação e qualidade dos profissionais;
  3. Os alunos devem colocar os doentes em destaque e ter competências de diagnóstico excelentes;
  4. Os alunos devem ser cientificamente curiosos, inovadores e tornar-se “life-long learners”. Sim, a ciência evolui e os melhores médicos são aqueles que se mantêm atualizados, por isso, aprender a aprender também é importante;
  5. Devem estar incluídas as ciências básicas, clínicas e dos sistemas de saúde, assim como as humanidades;
  6. Deve existir grande preocupação com o bem-estar dos alunos e devem ser criadas estratégias de apoio;
  7. O currículo deve ser disruptivo, inovador, flexível, livre e líder em educação médica.

E foi com estas premissas que se iniciou o “trabalho a sério”. Nós, os estudantes de medicina da EM-UM, fomos inseridos em vários grupos e começamos a desenhar as diferentes Unidades Curriculares (vulgo “cadeiras” ou disciplinas), a sua logística e as diferentes modalidades de ensino e de avaliação. Isto é, começamos a construir aquele que consideramos ser um plano de estudos de qualidade e o único em Portugal virado para o futuro:

  1. O currículo assentará em 4 pilares: as Ciências Básicas, as Ciências Clínicas, as Humanidades e, como novo elemento, as Ciências dos Sistemas de Saúde;
  2. O currículo será guiado por 7 linhas de pensamento:
    1. Fundamentos da Medicina – onde se procura dar as bases teóricas da estrutura e funcionamento dos diferentes órgãos e a sua interação;
    2. Competências Clínicas – capacitar os futuros médicos de diferentes estratégias de abordagem do doente com as mais diversas patologias;
    3. Saúde Comunitária e Medicina Preventiva – procura-se que o médico desempenhe, cada vez mais, um papel ativo na manutenção da saúde da pessoa e da comunidade em que se integra e na prevenção da doença;
    4. Ciências dos Sistemas de Saúde – com o objetivo de alertar o futuro médico para o seu importante papel dentro das diferentes instituições de saúde portuguesas, formando um profissional que perceba o funcionamento e gestão do sistema de saúde no qual se vai inserir;
    5. Ética, Profissionalismo e Humanidades – para reforçar o foco na humanização da relação médico-doente e da relação dos profissionais de saúde entre si;
    6. Tecnologia Aplicada à Medicina – dotar o futuro médico de condições ótimas para utilizar das mais recentes inovações tecnológicas nos cuidados de saúde;
    7. Investigação e Medicina Baseada na Evidência – incutir a vontade no futuro médico de atualização constante nos seus conhecimentos, à luz da evidência científica produzida.
  3. O currículo terá 3 principais modelos pedagógicos:
    1. Baseado em órgãos/sistemas – por exemplo: ensino da anatomia, fisiologia e alterações do sistema digestivo em conjunto e de forma integradora;
    2. Baseado em apresentações clínicas – por exemplo: abordar um doente com tosse e, a partir daí, perceber as doenças que podem estar na base da tosse e como orientar o doente;
    3. Construção de um perfil académico – por exemplo: construção individual de um perfil focado para as humanidades, artes, associativismo, entre outras áreas;
  4. O currículo será constituído por 2 anos de ciências básicas, 2 anos de ciências clínicas, 1 ano de opcionais e 1 ano de atividade profissionalizante (6º ano curricular), sendo que atualmente existem 3 anos de ciências básicas, 2 anos de ciências clínicas e 1 ano de atividade profissionalizante;
  5. Será possível realizar a totalidade do currículo em apenas 5 anos. A flexibilidade do curso estende-se ao tempo em que o podes terminar, por isso será possível realizar a totalidade do currículo em apenas 5 anos. Agora é que a tua cabeça deu um nó, certo? Explicamos isso já a seguir.

Como sabemos que é muita informação nova e queremos que esteja tudo esclarecido a tempo e horas da tua candidatura ao ensino superior, deixamos aqui algumas respostas às perguntas que talvez estejam na tua mente:

  1. Quando é que esta mudança entra em vigor?
    O currículo MinhoMD entrará em vigor em 2020 para o 1º e o 4º anos curriculares.
  2. Vou apanhar este novo currículo?
    Visto que o MinhoMD entra em vigor em 2020, todos os alunos com ingresso desde o ano 2017 irão apanhar o currículo MinhoMD! No entanto, apenas os alunos com ingresso a partir de 2020 terão este currículo desde o 1º ano. Ou seja, os alunos com ingresso em 2017, 2018 e 2019 farão o 1º, 2º e 3º anos curriculares com o currículo
    atual e no 4º ano transitarão para o MinhoMD. 
    Aqui é importante ressalvar que a transição do 3º para o 4º ano representa, atualmente, a mudança dos “anos básicos” para os “anos clínicos”. Assim, os alunos que entram em 2017, 2018 e 2019 nunca terão contacto com os “anos clínicos” do currículo original, mas sim do MinhoMD, reduzindo bastante a necessidade de uma nova adaptação, visto que, para este alunos, será o seu percurso normal.
  3. Como será possível realizar o curso em 5 anos?
    Os alunos que pretendam realizar o curso em 5 anos terão de realizar Unidades Curriculares durante o período que normalmente não é letivo, isto é, durante, por exemplo, as férias do verão. As Unidades Curriculares passíveis de serem realizadas nesses momentos estão previamente definidas e são essencialmente as ‘’Opcionais’’, que dão liberdade aos alunos de desenvolverem projetos numa ou em várias áreas do seu interesse, durante um ano letivo ou noutra altura que o aluno pretenda. Desta forma, o aluno pode envolver-se em projetos como o Erasmus+, realizar intercâmbios, voluntariado humanitário, investigação…
  4. Este currículo é mais difícil que os outros? E será melhor?
    Como alunos incluídos em todos os diferentes grupos de trabalho, e representando os alunos da EM-UM de todos os anos, acreditamos que este currículo não será mais difícil! Será exigente, desafiador e intenso, mas também permitirá aos alunos:
    • Aprenderem de uma maneira diferente! Em vez de teres de memorizar doenças (sinais e sintomas, meios de diagnóstico, tratamento e gestão do doente) e depois veres se encaixam ou não nos doentes que verás nas residências em Centros de Saúde e Hospitais, vais aprender a pensar a partir daquilo que as pessoas se queixam, e a partir daí chegar ao diagnóstico e ao tratamento, como os doentes que na realidade procuram os Cuidados de Saúde;
    • Terem contacto com a clínica desde o início;
    • Terem 1 ano inteiro opcional, onde poderão experimentar novas áreas (mesmo áreas que não se relacionam diretamente com a Medicina e a Saúde);
    • Terem flexibilidade e liberdade para desenvolverem o seu percurso individual;
    • Terem oportunidades para fazer investigação em diversas áreas;
    • Terem um corpo docente preocupado com a inovação e com a aplicação das melhores metodologias de ensino e de avaliação (ainda que pareçam assustadoras e diferentes).

Acima de tudo, acreditamos que este é o melhor caminho e o melhor currículo para que vos sejam dadas e que vos dará as melhores oportunidades para serem os melhores médicos possíveis!

 

Decidimos escrever este texto para desmistificar e ajudar a tomar as melhores decisões para os futuros estudantes de medicina e esperamos ter ajudado! Caso tenhas alguma dúvida que ficou por esclarecer podes colocá-la no tópico do fórum dedicado ao curso.

Aqui fica o nosso testemunho, de uma escola que, sim, é exigente, e sim, implica muita dedicação e estudo, mas que também envolve os seus alunos na sua maior transformação e que forma os médicos mais capazes e mais preparados para ajudar a população em Portugal.

Convencido? Então junta-te a nós e vem aprender a medicina do futuro!