Porque é que as mulheres não entram em Engenharia?

A tecnologia é uma área com muita procura no mercado de trabalho, prevendo-se que em 2020 ficarão por preencher 15 mil vagas. Apesar disso, é uma área que não atrai muitas candidatas. Fomos à procura de alguns dados e motivos.

O Observador escreveu um artigo sobre esta área, onde há emprego, mas quase não há candidatos. Refere que “no final do ano, a Comissão Europeia estima que fiquem 8.100 vagas de emprego por preencher em Portugal na área das Tecnologias de informação e Comunicação (TIC), segundo um relatório publicado pela instituição em janeiro de 2014. Em 2012, ficaram 3.900 e em 2020, estima-se que fiquem 15 mil. No total dos 27 Estados-membros da União Europeia, a comissão estima que fiquem 913 mil vagas por preencher nas TIC”.

Mas esta situação não é só comum na área da informática, mas também em outras engenharias como a eletrotécnica, a física ou a mecânica. Um estudo recente realizado nos Estados Unidos revelou que nesse país apenas 14% de todos os engenheiros em exercício eram do sexo feminino.

Entramos um interessante estudo de Nina Nilsson, doutorada em Engenharia Biomédica, que também foi à procura destas mesmas respostas. Aponta como justificações comuns para esta situação o sexismo no local de trabalho, a falta de mulheres que sejam uma referência e modelos a seguir, os estereótipos relacionados com a incompetência técnica inata das mulheres e a dificuldade de combinar uma carreira técnica com a maternidade. Por outro lado, como soluções conhecidas refere a criação de programas de mentoria, de grupos de apoio estudantis e uma maior atenção no recrutamento.

 

Uma experiência realizada na Universidade da Califórnia levou Nina a referir que a solução poderá ser mais simples. Verificaram que se o conteúdo do trabalho para o qual um determinado curso forma for socialmente mais significativo, as mulheres irão se inscrever em massa. Isto verifica-se não só em Engenharia Informática, mas também para outras engenharias mais tradicionais como mecânica ou química. Baseou-se num novo programa doutoral em engenharia para estudantes a trabalhar em teses em soluções para comunidades de baixos rendimentos. Na primeira edição metade dos inscritos eram mulheres, estudando soluções para a acessibilidade da água potável, na invenção de equipamentos médicos de diagnóstico para doenças tropicais negligenciadas e a fabricação local em regiões pobres e remotas.

Num levantamento que fez junto doutras universidades encontrou outras situações similares. Conta o caso do D-Lab do MIT, que se foca no desenvolvimento de tecnologias que melhorem a vida de quem vive na pobreza, em que 74% dos colocados no último ano eram mulheres. É uma das poucas iniciativas universitárias na área da engenharia no país que é dominada pelo público feminino.

O curioso dos casos que teve conhecimento foi não terem sido desenhados propositadamente para atrair um público feminino. O núcleo e foco de cada um destes programas continua a ser a tecnologia de ponta, no entanto, com um contexto social explícito e com uma missão.

 

O que é que isto nos mostra? Que a chave para aumentar o número de engenheiras pode não ser apenas programas de mentoria, embora estes sejam importantes. A solução passa, sim, por mudar o significado dos objetivos da pesquisa feita em engenharia e da adaptação dos seus currículos para que se tornem mais relevantes para as necessidades da sociedade. Como refere Nina, “Não é apenas sobre a equidade de género, é sobre fazer uma melhor engenharia para todos nós”.

Este artigo tem como base How to Attract Female Engineers do NYTimes.