Os sistemas de ensino e avaliação, em Portugal, estão parados no tempo. De vez em quando, quem está lá em cima muda isto e aquilo, altera programas, modifica cotações e percentagens. O que quem está lá em cima não entende é que isso é como tentar fazer um arranjo floral com flores velhas. E como não é meu costume acompanhar as novas tendências estéticas, explico melhor: o sistema de ensino é como uma casa bonita por fora, porém, totalmente destruída no interior. Toda a gente que a olha não tem a possibilidade de concluir mais do que aquilo que a visão pode testemunhar. Mas quem entra dentro dela, sabe que tem que ser submetida a obras. O que os responsáveis fazem? Cortam a relva e pintam os portões.
Senti isto quando fiz os Exames Nacionais. E, agora que sou estudante universitária, percebo que nada mudou.
Há algum tempo, assisti a um discurso indignado de uma professora minha. Esta, dizia que a chocava que a maioria dos alunos decorasse a matéria nos dias anteriores ao exame e que não a tentasse genuinamente perceber. São palavras repetitivas, acreditem. Já as ouvi imensas vezes. E fico sempre com a sensação de que o sistema não entende, que nós alunos, também gostávamos de sentir segurança nas diferentes temáticas que vamos estudando. Mas não há tempo. Com as exigências e a quantidade de matéria abordada em cada disciplina, com exames espaçados por 3 ou 4 dias. Não dá. No meu curso apenas agora se está a terminar uma sucessão de exames laboratoriais que já se iniciou há algumas semanas. E, vendo que falta uma semana para a primeira frequência eu gostava de já estar na fase de “esclarecer dúvidas”. Mas isso é uma situação puramente irrealista, pelo menos para a maioria dos estudantes. Houveram trabalhos para apresentar, laboratoriais para fazer, uma vida para viver. Mas o sistema não está feito, nem o tempo adequado nem a carga de matéria adaptada para que se possa compactuar tudo isso com compreensão extrema.
As pessoas entram na universidade fazendo exames ridículos que em duas horas conseguem ter o poder de comparar alunos. Não é incrível? A única coisa que se faz é uma listagem de valores e, a partir daí, alguém decide por nós se temos ou não potencial. Não estou aqui, de todo, a querer dizer que os bons resultados de alguém foram fruto de “sorte”. Claro que é mérito. Mas não duvidem que são mais os casos de alunos que não conseguem melhor porque não se adaptam à essência dos exames. Porque os nervos afetam. Porque muitos fatores afetam. Mas é a forma como o nosso sistema de ensino nos gosta de rotular. Com números. Números que miraculosamente definem aptidões, que abrem e fecham portas e nos dizem se somos bons ou maus. E eu vou dizer: esses números são pessoas. Pessoas que poderiam dar mais do que qualquer outra numa determinada área. Porque existem fatores como vocação e esforço. E porque os senhores lá de cima, durante todos estes anos, têm estado mais preocupados em comparar números. Não houve, nunca, espaço para pensar como se poderia passar a contabilizar e valorizar outros fatores, além de um número. Andamos todos estes anos a dizer que a “casa” precisa de obras. E só cortam a relva e pintam os portões.
E vamos para a universidade. Pensando que algo melhora. E nada muda. Isto varia mas, de forma geral, os cursos não estão feitos para nos preparar para o contexto prático e real. Cada área curricular tem um programa extenso, com muitas obrigações e atribuem-nos um calendário de exames que exige esforço sobre-humano. Se não for possível não importa. Vai ser sempre culpa nossa. Porque os números falam por si e continuam a ser eles que nos definem. Como estudantes seremos sempre números. Não há espaço nem parâmetros para avaliar algo mais do que uma quantidade surreal de matéria que nunca se saberá se foi decorada ou compreendida.
E quem passa lá fora vê uma casa linda. Que importa o interior afinal?
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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