Quando pensamos em universidade, vem-nos automaticamente à mente a ideia de que é um espaço de aquisição de conhecimentos, de abertura, de discussão e de pensamento crítico. Isso é, de facto, o que a universidade deveria ser. Mas, infelizmente, como em tudo na vida, a ideia que fazemos de algo nem sempre corresponde ao realmente é. Não quero, de modo nenhum, desincentivar ninguém a seguir o rumo da universidade com o meu testemunho, mas acredito que é importante pensarmos nos seus aspetos disfuncionais, para evitar criarmos falsas expetativas. Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Apesar de tudo, não descuro o facto de não existirem duas instituições de ensino nem perspetivas iguais: há pessoas que tiveram experiências fantásticas e não o devemos desvalorizar.
Quando estava prestes a ingressar no ensino superior, o entusiasmo era muito: novo ambiente, colegas mais maduros, com interesses próximos dos meus, entre outras “promessas”. Eu pensei que ia finalmente ganhar a minha autonomia em termos de estudo, fazer aquilo que gosto e ser bem sucedida. Sempre me disseram que a universidade difere do secundário pelo facto de ser um espaço de refutabilidade: não existem teorias absolutas, todo o conhecimento permanece em aberto.
A receção não foi animadora, porque tive logo de me deparar com a praxe. Sei que é um assunto polémico, mas era impossível não falar dele e não emitir a minha opinião. Há pessoas que beneficiaram imenso com a praxe, eu não fui uma delas. É paradoxal que a universidade seja um espaço que nos incite a lançar um olhar crítico ao mundo envolvente e que a praxe exista, ao mesmo tempo. Não consegui levar a sério expressões como “caloiro não ri”, “caloiro é besta” e “caloiro fica de olhos baixos” a sério. E não me venham com a desculpa de que é tudo em prol da integração, porque não existe senão como uma forma de alimentar o ego de quem já lá está (às vezes há mais anos do que devia), que no final de contas é exatamente igual a quem acabou de chegar. E sim, “o nosso sistema é hierárquico e temos de respeitar isso durante toda a nossa vida, é um valor que temos de absorver”. Mas o respeito tem de ser fundamentado: eu devo respeito a um líder que me inspire a tal.
Fora a questão da praxe, a universidade abrange outros aspetos desanimadores, pelo menos para mim, como o sistema de ensino. Aqui coloca-se um problema que já se colocava noutras etapas do percurso escolar: os momentos de avaliação nem sempre revelam o que a pessoa sabe. Como se costuma dizer, “a universidade é para os espertos”, e eu não podia concordar mais com esta afirmação. Às vezes, “safa-se” mais quem copia e quem usa “auxiliares de memória” do que quem realmente estuda. O objetivo na faculdade não é aprender, desenvolver competências, é passar às cadeiras com boas notas, e às vezes simplesmente passar. E nem sempre os dois processos andam de mãos dadas. O importante é sermos bem sucedidos e competitivos, não importa se aprendemos, se temos competências. E isso pode ser bastante desmotivador, até para quem tem talento. Mas claro que seria irrealista pensar no mundo académico sem provas de avaliação, as pessoas têm necessariamente de ser avaliadas.
Lamento verdadeiramente ter-me apenas focado nos aspetos negativos da universidade, mas foi o que senti. Aquilo que sempre foi o que quis tornou-se num pesadelo e drena-me a energia, sem, pelo contrário, fazer-me sentir realizada, que é o que sempre pretendi. Vejo-me obrigada a permanecer na universidade, não porque me faz feliz ou realizada, mas porque preciso de credibilidade, um dia, quando ingressar no mercado de trabalho.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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