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Tenho medo de crescer


Com a chegada da primavera dia 20 vem também uma nova realidade: o tempo parece estar a passar cada vez mais rápido. As famosas “férias da Páscoa”, que são já dia 5 de abril, marcam para muitos o início dos estudos para os exames nacionais (cuja época de inscrição acabou dia 19), enquanto para outros são sinónimo que se aproximam as idas às famosas viagens de finalistas que todos os anos unem alunos de todos os pontos do país num mesmo lugar. No meu caso, vou tentar aproveitar estas, que são as minhas últimas férias antes de terminar o secundário, para passar o máximo de tempo com a minha família e amigos (sempre sem me esquecer de manter o meu estudo em dia claro), pois a verdade que eu e muitos tantos outros não quisemos aceitar até agora é que estes são os nossos últimos meses rodeados, todos os dias, por estas pessoas que são tão especiais para nós e que, na sua maioria, acompanharam o nosso percurso até agora: São os nossos últimos dias como “adolescentes estúpidos”.

A música vencedora do festival da canção, “Deslocado” da banda Napa, surgiu como uma trend na famosa rede social Tiktok, no momento exato para reforçar esta ideia de que tudo vai mudar em breve. A música é, como dizemos atualmente com o nosso calão importado, relatable, não só para os alunos das ilhas que na maioria das vezes não têm outra escolha se não abandonar a sua “casapara se mudar para as grandes cidades, como para todos os outros. O sentimento de não pertencer afeta tanto aqueles que deixam o lugar no qual viveram por anos, como também aqueles que ficam para trás a ver todos os outros a partir e que, de uma certa forma, perdem também a sua “casa”, pois muitas vezes esta não é um sítio, mas sim pessoas.

Sou uma rapariga da ilha, e talvez por ter bastante família emigrada e um gosto enorme por viajar, sempre soube que esta era demasiado pequena para mim e que um dia, ia embora. Porém, agora que o dia de a deixar se aproxima debato-me com um certo medo. Sair da ilha não irá ser só mudar a minha residência num papel, mas também deixar para trás a “casa” que tenho vindo a construir (especialmente neste último ano), é crescer e isso assusta-me. É ir embora e não saber quando vou voltar a ver e a criar memórias com aqueles que ficam ou que também vão para outros lugares para seguir os seus sonhos. É não saber quando vai ser a próxima vez que como pão com ovo frito feito pela minha avó ou falo com as minhas primas sobre o tudo e o nada nos jantares de família que o meu tio adora organizar. É não saber quando vai ser a próxima vez que vou sair com aquela amiga que conheci no parlamento dos jovens e que agora é a minha confidente sobre tudo na vida ou com aqueles cujo riso e simples presença animam o espaço. É aceitar que aquelas amigas com quem dou voltas na escola e que têm sempre o melhor gossip disseram-me o seu último “até amanhã”. É perceber que a nossa infância acabou e temos de amadurecer e embarcar na carruagem da vida adulta o mais rápido possível, pois a vida é como um comboio que não para, e apesar deste receio de entrar numa nova fase, também temos de a saber aproveitar. Ao ir embora, vou para um lugar novo, vou construir uma segunda “casa”: conhecer sítios e pessoas novas, participar da praxe e outras tradições académicas e até mesmo fazer um pouco de Erasmus. Já que sou obrigada a crescer, vou aproveitar e aprender a viver.

Tenho medo de crescer, mas tenho mais medo de me arrepender de ficar parada no tempo. Sendo assim, gosto de pensar que vou deixar a minha “casa” com um coração cheio de boas memórias e aberto a novas experiências, para que quando voltar de onde vim, possa mostrar que valeu a pena. Então se és como eu, não desistas dos teus sonhos só porque tens receio de deixar o teu aconchego. Pensa que vai valer a pena e vive sem arrependimentos. Não fiques, como a Taylor Swift diz na música “right where you left me”, no mesmo sítio enquanto todos os outros avançam com a sua vida. Porque crescer ajuda-nos a nos conhecermos. Porque crescer ajuda-nos a evoluir. Porque crescer é assustador, mas também é lindo.

 

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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