Sabes Coimbra, quando pisei o teu chão e vi o teu céu pela primeira vez nunca pensei que me apaixonaria tão rápido por ti. Nunca imaginei que me sentiria parte de ti em tão pouco tempo. Mas Coimbra, dás-me tudo…
Percorrer as tuas ruas é ver a tradição, é ver as capas que rasgam a luz do dia, tingindo-as com um negro de história que se acumulou e que vive em ti. É ouvir uma serenata, numa noite de luar alto e naquele silêncio estudantil, ouvir mil vozes de histórias por contar e sentir que uma lágrima cai involuntariamente pelo nosso rosto. Ou o traçar de uma capa por alguém que escolhemos, por alguém que nos acompanhou e acompanha, olhando-nos com o orgulho, uma vez mais, de nos ver crescer sempre e cada vez mais a cada dia.
Mas és também, oh Coimbra, aquelas gentes que se reúnem e enchem as mesmas ruas de gritos e de festa, de carros, de flores, de rios de riso e lágrimas de saudade. Enches-te de vida enquanto caminhamos, descendo da tua Universidade até ao teu rio e sendo, finalmente, capazes de nos sentar no chão, vemos a tua real beleza.
És o nascer do sol, diferente do usual, do banal, do típico e do mediano, pois até o sol, que cobre a tua torre, se curva perante o esplendor que é olhar para ti do outro lado da ponte e pensar “afinal eu pertenço mesmo aqui”.
Sabes Coimbra, talvez seja essa a tua diferença para as outras cidades. A diferença de saber que podia estar em qualquer lado e mesmo assim tu acolheres-me assim, seja por um ano, dois ou toda a eternidade. Talvez sejam as tuas gentes, as pessoas e os sorrisos que esboçam, as gargalhadas de madrugada e os desejos feitos ao teu luar. Ou quem sabe sejas só tu Coimbra, somente tu, somente os teus rios de história e os esboços de um passado que não sendo o meu, torna-se parte de mim.
Mas o tempo também corre em ti e se ontem aqui cheguei, sei que um dia terei de partir. Sei que passou algum tempo aqui e o meu tempo, o meu primeiro tempo pelas tuas ruas acabará em breve. Sentir-me- ei eterna caloira nesta cidade, nesta faculdade, nesta vida boémia e estudantil que irei levar pela vida. Chegarão outros depois de mim, sentirão o mesmo ou até mais do que eu senti aqui. Olhar-te- ão com o mesmo ar de esperança e desejarão (espero eu) que o seu tempo aqui nunca acabe.
Coimbra, tu que me viste chegar e agora me vês crescer, tu que viste o meu primeiro traçar e foste testemunha da felicidade que vivi, não me deixes caminhar sozinha. Não me dês a hipótese de não te viver como dizem os poetas, de não chorar como dizem os trovadores ou de não te sentir como manda a tradição. Fica comigo Coimbra, como ficaste desde o primeiro dia, como ficaste quando escolhi a minha madrinha ou quando me viste batizar nas tuas águas.
Fica só por mais uma serenata, por mais uma balada e por mais um FRA. Fica mesmo que por vezes te diga para ires, tal como ficaste ao longo deste ano com aquele bater da velha cabra, ressoando pelas paredes da tua cidade.
E que a minha capa negra não perca jamais a força que teve na primeira vez que a coloquei, a felicidade ao ser traçada pela melodia de saudade no dia em que para muitos era o início e para outros o fim. Que percorra as ruas, que tinja também o postal que é a tua vista e que guarde histórias! Para que no dia em que tiver de ir, ela me pese sobre os ombros e possa dizer que vivi tudo o que havia para viver.
Por agora fico em ti Coimbra, deixo-me deambular pelas tuas ruas, sorrir com as tuas gentes e celebrar aquela que é a minha vida aqui. Sempre que percorro todo o teu caminho, vejo a torre lá no alto prendendo o meu olhar que vem depois abraçar o rio, sentindo cada vez mais, a vontade de ficar aqui o tempo que me for destinado a ficar.
Olho mais uma vez o céu e vejo que realmente é diferente. Como li várias vezes é até mesmo especial. E quando o sol te toca e fica uma luz misteriosa sobre ti, vejo-te Coimbra, da forma mais especial que conheci em ti. Recordo tudo o que já me deste e anseio pelo que virá.
E com a tua capa sobre os ombros vejo o quanto cresci e anseio por aquilo que um dia virá. E pergunto-me, cidade, como és de tudo isto capaz estando parada a ver a vida por nós passar?
Como fazes para que as gentes sorriam, para que se viva e se queira um minuto mais na hora da despedida? Que queiram voltar sempre atrás, voltar aqui?
Talvez seja a tua magia Coimbra, ou talvez quem sabe seja isto a que chamam tantas vezes de saudade.
Colabora!
Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
Gostavas de publicar um texto? Colabora connosco.