Numa carta dirigida ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a que a Lusa teve hoje acesso, José Araújo referiu que, quando em 2018 o Governo decidiu que os mestrados integrados em engenharia e psicologia deixariam de existir e seriam divididos em licenciatura (três anos) e mestrados (dois anos), estava “longe de imaginar” que “viveríamos hoje uma situação pandémica dramática com consequências brutais” na sociedade.
Dada a conjuntura atual e a incerteza futura, o líder da associação considerou à Lusa que este momento não é o oportuno para se concretizar uma mudança com o impacto que esta terá no percurso académico dos estudantes.
Porque, acrescentou, os alunos estão agora preocupados se têm comida até ao final da semana, dinheiro para chegar ao fim do mês e se os pais podem continuar a sustentar os seus estudos.
“É mesmo necessário provocar mais preocupações, incertezas e medo?”, questionou.
Fazendo referência a um inquérito realizado pela AEFEUP à comunidade estudantil para avaliar os impactos socioeconómicos causados pela pandemia até à data, José Araújo revelou que, de entre os 1.374 inquiridos, 31% afirmam que o seu agregado familiar sofreu uma redução nos rendimentos entre 33% e 100%.
Várias dezenas de alunos tiveram de começar a trabalhar para poderem continuar os estudos e cerca de metade dos que já eram trabalhadores-estudantes perderam os seus postos de trabalho devido à pandemia, foram outras das conclusões, sublinhou.
“Para além disso, preocupa-nos que os nossos colegas admitam viver graves dificuldades financeiras, correndo o risco de ter de abandonar o ensino superior”, frisou.
Já no que diz respeito aos docentes, José Araújo ressalvou que a preocupação é generalizada e já há algum tempo que se faz sentir.
A pandemia tem obrigado esta classe a adaptar-se e readaptar-se sucessivamente, por esse motivo e mediante as “diversas, inesperadas e exigentes mudanças” que o “extraordinário contexto” obriga, o presidente da associação entendeu não ser a altura certa para adicionar a esta toda a carga de trabalho que um processo de desintegração exige.
Quanto ao pessoal não docente, José Araújo alertou que é ainda uma incógnita o tempo que será necessário para proceder à alteração de todas as configurações inerentes a esta transição.
E este trabalho adicional não é compaginável com a situação de elevada instabilidade atual, mencionou.
Além da missiva dirigida ao ministro, José Araújo remeteu estas preocupações a todos os grupos parlamentares e pediu uma audiência à Comissão de Educação.