Olá, eu sou o João, natural de Vila Nova de Gaia e estudo na Universidade de Aveiro, curso de Bioquímica do Departamento de Química.
Sim, leram bem, Bioquímica. Podem achar que não é uma área interessante ou acessível mas cada área tem a sua exigência e esta não é exceção. Inicialmente pensei em seguir algo relacionado com a área das Ciências Forenses mas só existe no ensino privado e queria entrar no público. Entrei em Aveiro, uma cidade próxima do Porto, a Veneza portuguesa, com os seus encantos únicos e acolhedores, com os seus doces tradicionais que por acaso eu não gosto. Fiquei entusiasmado, ninguém da minha família sabia no que consistia este curso, era o primeiro, algo novo, diferente, interessante e longe de casa. No dia da matrícula (13 setembro 2018), fui recebido por estudantes mais velhos e jurei que não ia para este curso, afirmavam que era difícil e não era o mais correto para mim. Além disso, Aveiro é uma cidade relativamente pequena em comparação com o Porto e não tinha amigos presentes e comecei a entrar em parafuso. Muitas pessoas nas ruas e uma alma perdida sem saber o caminho da estação para a universidade. Pensei em concorrer à segunda fase, mas os meus pais aconselharam-me a ir ao início das aulas, fazer amigos, ver no que consistia o curso, os professores que iria ter, a metodologia de ensino e trabalho, descobrir o meu rumo dentro deste curso.
De facto, fiquei agarrado ao curso. Nem tem muita química nem muita biologia. Senti dificuldades porque não tive química no 12º ano e a maioria da matéria incidia nisso, mas os professores ensinavam tudo do zero e tiraram dúvidas fora das aulas.
A título exemplificativo, no 1º semestre tive Elementos de Química-Física em que o professor aconselhou seguir a cadeira pelo livro de Chang (para quem não sabe, Raymond Chang foi um professor de química que escreveu um livro intitulado de Química que já conta com 13 edições e serve como base num curso relacionado com a química). Os slides elaborados pelo docente eram baseados no livro, então notei que era mesmo importante comprar, mas toda a gente dizia que era caro e muito volumoso. Dirigi-me à FNAC e vi o livro. Fiquei assustado. A minha mãe só me alertava para o facto de os livros serem assim e que era normal eu abordar toda a matéria ao longo dos três anos do curso. Acabei por comprar graças a promoções. No 2º semestre, tive uma unidade curricular denominada de Laboratório de Química I, uma cadeira maioritariamente prática e realizávamos o relatório durante o decorrer da experiência. A experiência era explicada antes, o laboratório continha todo o material necessário e os armários identificados com o seu conteúdo. Quando o trabalho era interessante, as três horas dentro do laboratório passavam depressa, mas quando calhava atividades em que o resultado demorava era um pouco aborrecido. No meu caso, a minha turma era composta por alunos de Bioquímica e de Química, então às vezes comparávamos os cursos ou trocávamos ideias das cadeiras iguais e assim ocupávamos o tempo morto. Por vezes a professora também se juntava à conversa o que tornava a aula interessante. Porém, Química Orgânica I veio estragar o cenário todo. Como já devem imaginar, são compostos orgânicos e reações com eles. As aulas teóricas eram uma seca extrema, desculpem a sinceridade, mas a matéria é interessante quando se percebe. O meu problema é que chumbei a esta unidade curricular porque não tinha muito empenho nem força de vontade e por vezes o professor complicava ainda mais. Tranquilo, para o ano volto a repetir a cadeira com mais dedicação.
Relativamente a biologia, ainda só tive contacto com Microbiologia e Genética. Dos dois, adorei microbiologia, fungos, bactérias, E. Coli, placas de Petri… A matéria teórica coincidia com as aulas práticas (em ambos) e no início de cada aula prática tínhamos um questionário sobre a experiência a realizar. Nada demais, apenas verdadeiros e falsos que confundem os alunos. A nível teórico, as aulas eram um pesadelo, mas a nível laboratorial, tu fazias tudo. Preparação de meio, cultivar as células, visualização no microscópio através do esfregaço e sua coloração, extração do DNA e sua análise através da eletroforese. Muita coisa, pouco tempo. Algum material já estava preparado para poupar tempo e se o grupo funcionar bem conseguem sair mais cedo e ir comer e beber o café da manhã ou então apanhar o comboio e regressar a casa.
But, wait a minute… isto tudo parece cativante, mas e as cadeiras de matemática? Cálculo I e Cálculo II? Estas ficaram para o fim porque chumbei a uma e passei à outra. Cálculo I é sobre integrais e somatórios, eu dei em doido. Cálculo II fala-se sobre… bem, não me perguntem. Eu nunca percebia em que parte da matéria estava, tinha as fórmulas e conforme o enunciado ia resolvendo e chegava ao resultado pretendido, logo, passei à cadeira. Chegava sempre a uma parte da aula em que me questionava se estava na sala correta e o que estava escrito no quadro. É uma situação em que só precisas de 5% da cadeira para o futuro. Sinceramente, o professor ajuda muito e se o aluno aproveitar, ele consegue ter boa nota. Faltou-me duas cadeiras, Física Geral e Aplicacionais para Ciências e Tecnologias (ACE). Bem, ambas ficaram feitas, no caso da física, a parte inicial da matéria era acessível e a última boring, mas a componente prática ajudava na nota e o professor também ajudava dentro dos possíveis. ACE é aquela cadeira em que mexes no Matlab e não sabes para que serve porque além de eu não perceber nada e escrever comandos aleatórios, eu só ia marcar presença. Juro, sabem aquela disciplina que todos odeiam? Esta é a minha.
Depois desta breve apresentação do 1º ano do curso, o que é a Bioquímica? Se formos ver a definição convencional, Bioquímica é a ciência que descreve, ao nível molecular, as estruturas, mecanismos e processos químicos partilhados por todos os organismos e permite a definição dos princípios organizativos da vida, mas na minha opinião, Bioquímica é a área que estuda os processos moleculares que ocorrem no organismo humano, através da sua interação com, por exemplo, os alimentos. Não sou a melhor pessoa para escrever uma definição sólida porque ainda estou no processo de descobrir a bioquímica. Para já abordei as biomoléculas. Não tive aulas práticas, mas teóricas (conforme a matéria, a minha atenção ia variando) e teórico-práticas em que se resolviam problemas. A meu ver, o principal fator preocupante nesta unidade curricular são os testes em que eram divididos em dois grupos fundamentais: parte das escolhas múltiplas e verdadeiros/falsos e a parte de desenvolvimento. Como devem prever, o desenvolvimento é mais difícil e tem uma cotação superior. Nada disso! As escolhas múltiplas valiam mais e eu prefiro desenvolver, demonstrar o meu raciocínio, por em prático o conhecimento adquirido.
Posteriormente, no mestrado não planeio seguir bioquímica (clínica ou alimentar), mas oncobiologia, microbiologia, técnicas laboratoriais de ciências forenses, histopatologia ou citologia. Mas a minha opinião ainda pode sofrer mudanças.
E a Universidade de Aveiro? Como é o espírito académico? As festas no Bar do Estudante? Escolhi a Universidade de Aveiro por estar a inovar e apostar nos seus cursos e tem umas ótimas instalações, têm realizado experiências de elevado grau de importância. Infelizmente não fiz parte da faina (praxe académica) por falta de gestão de tempo e só fui apenas a uma festa, não muito a minha onda, chegava ao final do dia cansado e só queria ir dormir, mas gostava de ouvir as experiências que os meus colegas transmitiam, fui à praxe duas vezes e como depois não sabia se ia continuar em Aveiro decidi desistir e ter mais tempo para não fazer nada. Apesar disto, fui conhecendo pessoal mais velho e partilhando ideias acerca da minha vida académica. Em suma, esta é uma universidade que se molda ao estudante. Está sempre a evoluir, imensos locais para almoçar e estudar, um campus enorme. Qualquer evento que esteja para realizar eles avisam no email, atividades de voluntariado, notícias, informações, sempre preocupados com o bem-estar do estudante.
Espero que tenham gostado mais de Bioquímica e, particularmente da maravilhosa Universidade de Aveiro. Não se assustem, a experiência de cada um varia com as nossas escolhas e entrem para a universidade com o espírito de que lutaram por esse lugar, é vosso, cuidem bem dele. Fiquem bem!
Chemistry joke: Want to hear a joke about sodium? Na. ?
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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