Uma guerra, como facto marcado pelo conflito armado e pela morte, nunca é pedagógica. Não pelo menos numa visão holística, portanto, do todo superior às partes do fenómeno. É claro que se pode aprender estratégias, táticas e técnicas militares, modos de organização do espaço, astúcias de comunicação e digitais – mas isto é somente uma obrigatoriedade exigida num período de grande medo e desespero.
O que acontece na Ucrânia desde quinta-feira, 24 de fevereiro, só tem um caráter educativo para nos levar a compreender o que não fazer, como não fazer e porque não fazer. Se as televisões ensinam às pessoas ucranianas como realizar cocktails molotov, se lhes são fornecidas armas, se é pedido que se retire as placas de ruas, aldeias e cidades para confundir o inimigo russo, e tudo isto consiste em transmissão de conhecimento de guerra, não deixa de haver sofrimento e sangue que traduz uma aprendizagem que há milénios já deveria estar compreendida. Para perceber o significado da dor, da raiva, do assassínio, bastaria uma única contenda bélica – todas as seguintes são sinal de que o mais importante aprendizado ainda não aconteceu.
A diplomacia é uma tentativa de negociação de interesses e, por isso, possui normalmente um caráter pedagógico. Acontece que ela não existe, em termos práticos, quando pelo menos um dos lados não deseja verdadeiramente estabelecer um pacto. O plano de Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa, ao que tudo aponta, já estava pensado há bastante tempo e esta escalada de violência é a concretização atual do mesmo. Felizmente, por outro lado, a União Europeia, numa linha de apelo à consciência e de punição dos atos dolo(ro)sos, tem-nos ensinado que a soberania, a independência, a democracia liberal, os próprios direitos humanos, exigem um respeito franco para que a estabilidade no mundo seja preservada. Sabemos que no planeta há desequilíbrios múltiplos e alguns deles muito intensos, ao nível económico, social, cultural, educativo, mas não devemos ser responsáveis pela amplificação dessas desigualdades.
Que olhemos para as televisões, que não cessam a transmissão da luta, para compreender como a educação é indispensável à reflexão e à crítica da realidade que nos rodeia. E a história é uma dimensão indispensável na produção de atos educativos, tratando-se de um instrumento essencial para pensarmos no passado e organizarmos o presente e o futuro. Putin, aos olhos de variadíssimas/os comentadoras/os, falsificou a história e partilhou-a com as/os cidadãs/ãos russas/os, estando também a proibir o acesso da população à informação e a escrita de determinadas expressões como “invasão” ou “ofensiva”. Por sua vez, o chamado Ocidente, no seu auxílio à Ucrânia, tem tentado salvaguardar um modo de vida no qual também a educação é um pilar de construção de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e de ação ou a igualdade de condições. Se não há fações sem falhas nem passado sem duas ou mais versões, há momentos em que é fácil escolher um lado.
Colabora!
Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
Gostavas de publicar um texto? Colabora connosco.