A pandemia tem-nos trazido desgostos e infelicidades que nunca esperámos vir a acontecer, é um vírus rápido, sem piedade nem preferências, desta vez atacou uma estudante açoriana em terras continentais.
Foi no passado mês de outubro que Ana (nome fictício), quis viajar para os Açores para visitar a sua família e não pôde. Ana é estudante da zona de Grande Lisboa e ficou muito contente quando os seus professores disseram que as frequências iam ser online e que estavam dispensados de ir às aulas presenciais.
Para que Ana estivesse descansada em casa, decidiu fazer o teste de despiste ao vírus SARS-CoV-2 antes da sua viagem, mostrando a sua preocupação para com a sua Região e, claramente, com a sua família.
Após ter feito o despiste, recebeu o resultado e este, infelizmente, acusou positivo, ficando assustada, pois faz parte do grupo de risco de asmáticos crónicos.
Nos dias que se seguiram, tentou ligar para vários Centros de Saúde da zona de residência de Lisboa, tentou contactar hospitais públicos e privados, as linhas de apoio ao covid-19 Açores e as respostas foram sempre “ligue para este contacto” mostrando que a organização, claramente estava em rutura.
No dia 1 novembro fez ligações telefónicas desde as 07h45 da manhã até às 19h00 da tarde, contactou várias unidades de saúde e uma unidade hospitalar que lhe deu um contacto para realização de procedimentos do covid-19 tendo ligado 113 vezes e nunca obteve uma resposta.
Para além de ligar para unidades de saúde contactou juntas de freguesia para que fosse monitorizada, pois é de grupo de risco e não sabia o que poderia acontecer se ninguém soubesse do seu caso.
Desde o dia que soube o resultado do despiste até conseguir uma resposta, passaram-se 11 dias. 11 dias sem monitorização, sem contacto com ninguém, sem apoio por parte de uma equipa responsável pelo covid-19, sem nada e, atenção, Ana faz parte dos grupos de risco, é asmática crónica e não teve nenhum, mas nenhum apoio.
Ao mesmo tempo que tentava apoio em Portugal Continental, os pais iam a secretarias, ao Centro de Saúde na sua área de residência, nos Açores e nunca conseguiram apoiar a filha, pois mesmo que quisessem, o processo clínico de Ana nunca tinha sido enviado dos Açores para Portugal Continental, ao que aparentemente “ficou perdido”.
A sorte, sim sorte, de Ana, foi uma telefonista que se preocupou por Ana ser asmática e não estar a ser monitorizada e pediu-lhe todos os seus dados para que o processo fosse enviado para uma médica, que rapidamente introduziu Ana no sistema.
Após Ana ser introduzida no sistema, foi contactada pela médica passado 1 hora e disse “tem alta médica, vou-lhe enviar o relatório que o comprova”.
Como estas situações, existem milhares, os estudantes açorianos, para além de estarem longe, vêem-se deixados à deriva nestas situações, sendo que não existe nenhuma linha de apoio para açorianos deslocados neste contexto pandémico.
Todos sabemos que a situação não está controlada mas a falta de organização por parte das entidades, por parte das linhas de apoio, por parte de centros de saúde, é o que faz com que o SARS-CoV-2 seja letal.