Pelo sonho é que vamos

“A vida é muito mais do que a escola.” Disseram-me esta frase vezes e vezes sem conta nos meus anos de secundário quando aparentemente valorizava mais o estudo do que todas as outras atividades. Contudo, havia algo dentro de mim que não me deixava parar de pensar em ter boas notas. Essa inquietação tinha um nome: medicina. Embora não goste de me colocar em listas e de ser só mais um número, é isso que sou. Sou mais uma estudante cujo objetivo passava por entrar em medicina e foi para isso que eu, como tantos outros, trabalhei durante o meu secundário inteiro. Porém, sou também mais uma aluna que não conseguiu entrar no curso que queria à primeira.

O meu percurso escolar foi relativamente semelhante ao de muitos candidatos a medicina. Era boa aluna e consegui alcançar uma média interna relativamente favorável embora os exames nacionais deixassem muito, mas mesmo muito a desejar. Eu não era uma aluna que infelizmente ficaria de fora por meia dúzia de décimas, mas sim por valores! Em boa verdade nem me podia candidatar por não ter o mínimo pedido numa das provas de ingresso. No meu 12º ano já não tinha esperança de entrar, mas decidi experimentar um outro curso universitário. Matriculei-me em setembro mas acabei por anular a matrícula antes do final do ano civil, estando já mentalizada de que iria para casa estudar para os exames nacionais. Assim foi, e em janeiro já estava a estudar para as três provas de ingresso que o curso exige.



De janeiro a junho estudei como nunca tinha estudado. Planifiquei o meu estudo diariamente, semanalmente e a longo prazo de modo a garantir que conseguia fazer tudo aquilo a que me propus dentro do tempo que tinha. Seis meses parece muito tempo, mas quando se estuda para três exames nacionais o tempo voa e é importante tê-lo sempre sob controlo.

 

Arrisco-me a dizer que tão importante como os seis meses de estudo foi a mentalidade com que fui para os exames. Nos exames que tinha realizado anteriormente estava sempre uma pilha de nervos na véspera e no dia, mas este ano decidi que não iria ser o meu estado mental a penalizar-me e adotei uma atitude positiva em relação ao desafio que se avizinhava. Estranhamente (ou não), quando estava a ser chamada para a sala onde iria ser posta à prova não me sentia nervosa. Tinha sido invadida por um sentimento de paz por saber que havia dado o meu melhor e que não podia ir abaixo naqueles momentos decisivos! Esforcei-me por me manter tranquila durante aquelas horas e nunca entrar em pânico caso não soubesse a resposta à primeira.

Entretanto a época de exames terminou e mal dei por mim tinha chegado o dia da afixação dos resultados. Lembro-me da viagem tensa de autocarro até à escola. Estava mais nervosa para saber as notas que tinha tido do que a realizar as provas. Foi com o coração aos saltos e as mãos a cobrir a boca de espanto que vi a pauta. Não só tinha alcançado as notas que precisava como ainda as tinha superado bastante, acabando por aumentar a minha média interna em um valor e a minha nota de candidatura em mais de dois valores e meio! Estive algum tempo em choque, mas depressa sosseguei pois ia entrar no curso com que sempre sonhei!

Em suma, a vida é feita de altos e baixos, de desafios e superações, mas somos movidos pelos sonhos e temos de acreditar que no fim iremos ser recompensados. Para muitos é à primeira, para outros tantos à segunda. Há ainda quem não pare de tentar até conseguir. Se também tu tens um sonho, seja ele entrar em medicina ou outro qualquer, por favor não desistas! E com este apelo não pretendo que ponhas a tua vida de lado enquanto o tentas alcançar, mas sim que tenhas esperança e que acredites que tentar uma vez mais faz toda a diferença! Não sejas só mais um na lista dos que não lutaram pelos seus sonhos. Ainda assim, nestas listagens a que vamos parar nem tudo é mau, pois posso agora orgulhar-me de pertencer à lista de alunos da Faculdade de Medicina de Lisboa, e isto faz com que todo o esforço tenha valido a pena.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

 

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