Todos os dias, com maior ou menor intensidade, pergunto-me sobre que espaço ocupa a/o socióloga/o no mundo e na sociedade portuguesa em particular. Ao nível institucional e da prática científica e social, o que tem feito e o que pode fazer a Sociologia pela melhoria das condições de vida das/os nossas/os concidadãs/ãos. E, repetidamente, conheço as respostas, mas encontro sempre estigma no que concerne ao modo sociológico de trabalhar e/para conhecer a realidade.
As ciências sociais e humanas têm constantemente de lutar – e esta é a palavra correta – para se assumir num contexto de subrreconhecimento, subfinanciamento e subrrepresentação. Todavia, gostaria de focalizar a Sociologia devido ao meu percurso de formação académica. Pensemos no papel desta ciência ao nível do enfrentamento da pandemia da Covid-19. No sétimo episódio do podcast Ainda-Não: Sociologia e Utopia, Carlos Gonçalves [1], Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e especialista nas áreas da sociologia do trabalho, do emprego, das profissões e das organizações, refere que as/os sociólogas/os – assim como, por exemplo, as/os economistas – não foram convocadas/os para o combate à pandemia, nem na forma de grupos com funções de apresentação de resultados de investigação, nem ao nível de um labor colaborativo na produção de políticas públicas, ambos relacionados com o aconselhamento que estas/es profissionais também podem dar. A predominância esteve em áreas como a biologia, a epidemiologia, a virologia e a medicina, as quais se mostraram indispensáveis no controlo da doença provocada pelo SarS-CoV-2 e não foram, de resto, quem ocultou o valor de conhecimentos como o sociológico; quais são, então, as razões desta espécie de apagão?
Gonçalves, mas também outras/os investigadoras/os como o célebre francês Pierre Bourdieu, afirmam que a Sociologia é um desporto de combate social. Uma espécie de inércia do mundo social, onde as coisas se reproduzem e, a partir desse processo, se perpetuam, requer um olhar que permita uma transformação das estruturas (e também dos sujeitos). Por outro lado, o pensamento sociológico é um modo de defesa pessoal, de argumentação com clareza e fundamentação. Ora, pensemos no seguinte: como é que temos conhecimento das desigualdades que ocorrem no mundo educativo? Ou como é que conseguimos entender as razões que podem levar à intensificação da violência doméstica? Ou perceber as lacunas das políticas culturais e a desvalorização da cultura numa sociedade de semiperiferia como é a portuguesa? Ou justificar a pobreza estrutural em sociedades onde os recursos em termos monetários até podem ser avultados, mas em que não existem infraestruturas e planeamento para concretizar esse dinheiro em direitos de saúde, educação, segurança social e habitação? Ou analisar, criticamente, os efeitos de fenómenos como a corrupção ou a desinformação sobre o sistema democrático como abstração e como realização político-social? Estas realidades são interpretadas à luz, não só, mas com frequência sobretudo, da visão da Sociologia, cujo ofício nos possibilita alcançar estatísticas e análises de discursos indispensáveis a uma interpretação mais consciente dos fenómenos.
Este artigo traz tantos “como” e “ou” quanto dúvidas e dilemas, sendo as respostas muito escassas. Servirá para que todas/os, leitoras/es e eu, possamos refletir e agir em prol de um maior reconhecimento da ciência sociológica.
[1] Gonçalves, Carlos (2021). Ainda-Não: Sociologia e Utopia. UPorto: Casa comum, n.º 7. Retirado de https://www.up.pt/casacomum/ainda-nao-sociologia-e-utopia/7-carlos-goncalves/ [12 out. 2021]
Colabora!
Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
Gostavas de publicar um texto? Colabora connosco.