Só 30% dos estudantes concluem mestrados em dois anos — menos de metade termina licenciaturas no tempo previsto

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Apenas 3 em cada 10 estudantes concluem o mestrado em dois anos — o tempo previsto para a sua duração — e menos de metade dos alunos termina a licenciatura no prazo teórico de três anos. Estes dados constam de um relatório recente da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), divulgado esta semana, que analisou os percursos escolares dos estudantes do ensino superior em Portugal.

O estudo, baseado em dados administrativos referentes aos alunos inscritos nas instituições de ensino superior entre 2016/2017 e 2021/2022, permitiu avaliar com maior precisão os tempos efetivos de conclusão dos cursos. Os números mostram que, embora a maioria dos estudantes acabe por terminar os seus cursos, uma parte significativa fá-lo com atrasos que vão de um a vários anos, consoante o ciclo de estudos e a área científica.

Tempo previsto vs. realidade

Segundo o relatório, 47% dos estudantes terminam a licenciatura no tempo regulamentar (três anos na maioria dos cursos), enquanto 36% demoram mais um ano e os restantes prolongam ainda mais o percurso académico. Já nos mestrados, a taxa de conclusão no tempo esperado (dois anos) é mais baixa — apenas 30% — com uma parte significativa dos alunos a concluir em três ou mais anos.

Estas estatísticas apontam para um desfasamento persistente entre o planeamento curricular e a realidade vivida pelos estudantes. Entre os principais motivos identificados estão dificuldades na conciliação entre estudo e trabalho, problemas de saúde mental, atrasos na entrega da dissertação, bem como desafios financeiros que levam muitos alunos a reduzir a carga letiva por semestre.

 

Variações por área de estudo

O relatório da DGEEC permite também perceber que o atraso na conclusão é transversal a praticamente todas as áreas de estudo, mas mais pronunciado em cursos como Engenharia, Ciências Naturais, Artes e Arquitetura. Em contraste, as áreas de Educação, Ciências Empresariais e Saúde apresentam taxas ligeiramente mais altas de conclusão no tempo esperado.

Debate sobre a organização dos ciclos de estudos

Estes dados surgem num momento em que o Governo e várias instituições do ensino superior discutem a necessidade de rever a organização dos ciclos de estudos e reforçar os apoios aos estudantes. Para muitos especialistas, a pressão para concluir os cursos em tempo útil pode prejudicar a qualidade do percurso académico e o bem-estar dos alunos, sobretudo num contexto de elevada precariedade social e económica.

Ao mesmo tempo, os atrasos têm impacto direto nos indicadores institucionais de sucesso escolar e podem influenciar o financiamento atribuído às universidades e politécnicos. A DGEEC recomenda que estes dados sejam tidos em conta na definição de políticas públicas mais eficazes e no desenho de medidas de acompanhamento académico, nomeadamente ao nível do apoio tutorial e da flexibilização curricular.