Acabadinha de sair do forno de Belém e promulgada, a nova lei dos estrangeiros exige que os familiares de imigrantes realizem formação em língua portuguesa e, no caso dos menores, que frequentem a escola. Nada contra, totalmente a favor.
Ora eles querem mesmo aprender português? Não. É um “não” redondo.
Quando no século passado se integravam os alunos com deficiência visual numa sala, os de língua não materna noutra, e os de perturbação da linguagem no fundo do corredor – estava mal, claro. Não era Inclusão. Mas agora querem tudo junto, e sem professores de apoio, está tudo louco?
Falava há dias com uma colega que dá aulas no Cacém, talvez a escola mais multicultural do país com 50 nacionalidades. Perguntei-lhe: “Então e os intérpretes, os mediadores culturais de que o governo tanto falou?” Respondeu-me: “Achas?… Quando muito, temos um professor de Português Língua Não Materna (PLNM).” E pronto. Fica tudo dito.
Não obstante, o problema não é só este. Os alunos de PLNM vão continuar a recusar falar português enquanto forem tratados como um grupo à parte, fechado nas suas bolhas sociais. Enquanto houver professores que os juntam por culturas e até os mandam, sozinhos, para a biblioteca “para trabalharem melhor”, é o início do gueto a ser criado em plena sala de aula.
Há estudos cientificamente fundamentados, com evidências robustas, que sublinham que devemos traduzir os trabalhos/testes/atividades não para inglês (nem todos sabem) mas para as suas línguas maternas. Os alunos gostam de relacionar as palavras e identificar proximidades linguísticas. Enquanto não houver esforço para traduzir, para adaptar, para compreender as culturas que trazem no corpo e na alma, o português será apenas uma língua de sobrevivência e não de pertença. O que queremos afinal?
Caríssimos leitores, hoje em dia, o mundo já não está lá fora, está na sala de aula. Precisamos dos imigrantes. Precisamos de os respeitar. Toca-me profundamente pensar que Portugal, o país que um dia se orgulhou de ter sido o protagonista da primeira globalização, continua, desculpem, racista como tudo. Conquistámos terras em todos os continentes e ainda não aprendemos a conquistar o respeito pelo Outro.
Na minha sala de aula somos vinte: dez portugueses e dez imigrantes. Hoje foi dia de procurar imagens do Nepal, falámos sobre a política atual nepalesa, trouxe a minha kurta e, às vezes, deixo que me pintem com henna a palma da mão. Trazer para a sala de aula as heranças únicas dos aprendentes é uma forma de privilegiar a cultura do Outro. Nesses momentos, algo muda: os olhos deles brilham e o português surge, claramente, mais possível de se querer mesmo aprender.
Não sejamos postiços. Não vamos essencializar culturas. Não esperem menos de quem tem menos. Eles percebem quem está verdadeiramente interessado. Aprender com os outros é uma oportunidade, para nós e para eles! Haja coragem!
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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