O melhor de Coimbra não se vê. Não está lá visível, palpável. A beleza desta cidade de estudantes não é simplesmente a vista do Penedo, o brilho do Mondego ou as folhas caídas do outono na Praça. A beleza maior que eu sinto na cidade dos amores é transmitida pelo fado, pelo ensinamento, pelas histórias. Porque nenhum dia é igual ao outro e as memórias serão eternas. Se eu hoje me sentar à mesa com um antigo universitário, irei deliciar-me com as suas histórias, e ele terá todo o prazer em contá-las. É uma jornada, um saber empírico que se vai ganhando e, mesmo sem repararmos, cresce em nós uma verdadeira paixão. Um dia, enquanto caloiro, inocente e solitário, perdi-me por Coimbra. Fui sozinho enfrentar as subidas e descidas, descobrir os recantos. Vi o Mondego, a Alta, subi até à Universidade. E sempre que faço essa jornada, nunca a consigo contar da mesma maneira. Porque cada pormenor conta, cada sítio é mágico e cada rua única. Nesse dia, enquanto caloiro, na minha primeira semana, foi só isso que eu consegui ver, um Mondego que refletia o sol, uma Alta que me deixou ofegante de tanto subir, uma Universidade sem cor. Nesse dia, Coimbra, eu perdi-me em ti.
Hoje, contudo, não me perco mais. Sei cada atalho como a palma da minha mão. Conheci, finalmente, o Mondego que me acolheu, e apreciei cada raio de luz que ele transmitia, a vista da Cabra lá em cima, imponente, agigantada pelo bater das horas. Ó Mondego, “tens nas águas, todo o brilho desta cidade”, e que bem o transmites, porque quem te vê com olhos de ver não vê só um rio, mas um braço enorme que batiza todo o estudante que por aqui passa e que chora ao te ver. Agora vejo que não és mais um rio, mas um pai para esta cidade, e que tudo em ti são lágrimas de saudade, porque é impossível falar de Coimbra sem falar de saudade. Espera por mim, porque quando chegar ao fim, é a ti que me vou entregar. Um dia, Coimbra, eu perdi-me em ti, para agora ver a tua beleza.
É também com prazer que percorro a calçada enegrecida da Alta, onde milhares de estudantes já passaram, onde milhares já choraram ao ouvir as baladas. Onde tantas capas foram traçadas e abraços passaram de geração em geração, de padrinho para afilhado. As ruas estreitas serão sempre o melhor caminho, a visão da torre lá em cima será sempre um sossego, por saber que onde quer que esteja Coimbra olha por mim. É na Alta de Coimbra e no sossego barulhento da Sé Velha que aprendemos o valor do fado, que coletamos histórias. Que bebemos só mais um copo cheio de vida e memórias futuras. Um dia, Coimbra, eu perdi-me em ti, para agora ver que és intemporal em todos os nossos corações.
Finalmente, cheguei ao teu topo, cidade encantada. A Universidade, outrora sem cor, hoje viva, o berço do conhecimento. Foi graças a ti que conheci quem tenho ao meu lado, que abracei aqueles que agora me são tudo, porque tu deste-me uma família quando te pedi um curso. Nunca irei conseguir dizer-te o quanto estou grato. Pelos abraços, pelos risos, pelos jantares, pela praxe, pela eterna saudade que vais deixar. Não me perco mais quando te vejo porque já te conheço, já vivi em ti histórias que levarei para a vida. Academia cheia de tradições e promessas, que vê os seus filhos honrar a capa e batina. E traço a capa junto a ti, porque és a prova viva que nunca se esquece quem mais nos dá. Um dia, Coimbra, eu perdi-me em ti, para poder agora ver o verdadeiro sentido de saudade.
Coimbra, minha cidade! Escrevo aqui a tua história, mesmo sabendo que essa história nunca vai poder ser contada. Falta tanto tempo para ir embora, e ao mesmo tempo tão pouco. É de ti que me vou lembrar, quando empunhar o canudo, porque é à tua sombra que eu descubro quem quero ser. A ti, cidade encantada dos amores e loucuras e tradição, a ti escrevo um obrigado do tamanho do teu luar, e te abraço com a minha capa para podermos seguir sempre juntos ao longo desta vida. Um dia, Coimbra, eu perdi-me por ti.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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