Administração Pública e Políticas do Território: o início de uma longa jornada

O meu nome é Catarina Duque. Estou no curso de Administração Pública e Políticas do Território no ISCSP e transitei agora para o segundo ano. O que me levou a ter a iniciativa de escrever para esta plataforma foi o facto de estar inserida num curso que mais que nunca merece ser falado e especialmente ouvido, na tentativa de despertar curiosidade aos que se interessem por estas áreas.

Antes de mais e porque a vida é feita de escolhas, vou partilhar convosco o primeiro impacto que senti ao ingressar no ensino superior. Até aqui parece tudo um mar de rosas, no entanto não foi de todo assim. Tenho plena noção de que foi uma opção feita por mim, mas no momento em que soube que tinha ingressado no meio académico, a felicidade que supostamente deveria ser sentida rapidamente se tornou numa imensidão de angústia por não ter entrado na primeira opção. Seguiu-se uma noite conturbada, onde o sentimento de culpa prevalecia. Iniciava-se a semana das matrículas e, embora tivesse hesitado muitas vezes, fazer parte do universo universitário era uma aspiração que desejava e o realizar de um sonho. O medo pairava e o coração quase me saltava da boca. Esperou-me uma manhã difícil e nos cochichos dos corredores não ouvia ninguém a falar do meu curso. A solidão fazia-se sentir cada vez mais. Depois desta longa manhã, era oficialmente caloira! É difícil conseguir expressar este sentimento tão cheio de sonhos e, ao mesmo tempo tão vazio por não saber o que me esperava. Tinha passado uma semana de ânsia intensa e o período letivo teve início. Seguiu-se a praxe, onde fui amavelmente recebida por todos, embora não tivesse continuado, não por não gostar dos doutores ou mestres, simplesmente não me identifiquei. Não conhecia ninguém, e pouco sabia acerca das unidades curriculares ou até das próprias saídas profissionais deste curso, mas no decorrer do ano fui descobrindo que contrariamente ao meu pensamento inicial, as empresas e até as próprias entidades púbicas carecem de profissionais especializados nestas áreas do conhecimento.



A verdade é que à medida que o tempo foi passando fui-me apercebendo cada vez mais que era este o meu caminho e que toda aquela insegurança inicial não passou disso mesmo. O primeiro impacto com o mundo universitário é quase como um balde de água fria e são a opinião de que o regime pós-laboral é só facilidades…  não se iludam e tirem essa ideia da cabeça meus caros. Até vos digo mais: requer um estudo regrado e contínuo para que possam colher os frutos e tirar proveito do vosso esforço. Em relação à minha experiência, estar no regime pós-laboral nunca foi uma afronta para mim, bem pelo contrário, ajudou-me muito a crescer. Muitas vezes estou com sono, com vontade de ir para casa, cansada, mas o ser humano é versátil e adapta-se facilmente, é tudo uma questão de uma boa gestão do tempo e vontade de se realizarem enquanto pessoas. Felizmente tive a sorte de estar integrada numa turma excelente, empenhada e resiliente. O que mais me surpreende é o facto de se encontrarem alunos a partilharem o mesmo espaço com idades compreendidas entre os 17 e os 55 anos sensivelmente, e o respeito com que é encarado esse desafio. Para mim, alguém que tem outros encargos para além da construção do percurso académico (nomeadamente ao nível profissional e familiar) é qualquer coisa que tem muito valor e merece toda a consideração.

 

Este curso é muito recente (tem cerca de 7 anos) e precisa de ser valorizado. A questão do planeamento e condicionalismos existentes tanto na cidade como no campo, é algo que precisa de ser repensado como é do conhecimento de todos, tanto ao nível central, local ou regional. Parecendo que não, um mau planeamento de uma cidade, a utilização inadequada dos equipamentos ou infraestruturas que são de todos nós, têm impactos nocivos na vida em comunidade. Dizer-vos também que a componente social também está muito presente nesta licenciatura, bem como o colmatar das assimetrias regionais de que tanto ouvimos falar. Posso afirmar que este curso vai beber a água de diversas áreas do conhecimento, nomeadamente ao nível económico, político, administrativo, geográfico, demográfico, entre outras. Aprendemos também a trabalhar com Sistemas de Informação Geográfica, o que é uma mais valia porque ajuda-nos a planear e até mesmo a prever e a precaver certo tipo de situações.

Em relação às cadeiras do primeiro ano, são cadeiras muito abrangentes, ambíguas até. No primeiro semestre, são lançadas as bases, existem poucos trabalhos, portanto o foco é no estudo teórico de cada unidade curricular. O segundo semestre foi mais trabalhoso, muitos trabalhos de grupo e muita teoria a saber. O objetivo é exatamente esse, que as matérias se vão complementando de uma forma crescente e gradual, e que aos poucos as peças do puzzle sejam mais fáceis de encaixar. Este primeiro ano foi um ano muito teorizado como é natural, o objetivo consubstancia-se no afunilar e aprofundar conhecimentos mais específicos à medida que o tempo vai passando. É muita matéria é certo, mas o desafio passa pela capacidade que cada um tem para filtrar as informações que nos são transmitidas.

Um conselho: não deixem acumular as matérias! É extremamente importante que o estudo esteja sempre em dia, para que seja mais fácil na altura dos exames. Dizer também que a realização dos trabalhos de grupo, embora sejam de teor opcional, é essencial que os façam. Quanto ao tempo, esse maldito que corre a uma velocidade avassaladora… não deixem de fazer os trabalhos pelo tempo. Nunca é tempo perdido e vão ter que deixar muitas coisas para trás, a realidade é esta. Mas independentemente da nota, têm é que fazer escolhas e fazer parte do mundo académico tem as suas consequências! O trabalho em grupo tem, na minha opinião, tanto ou mais peso do que a própria prova escrita! A relação que se cria na realização de um trabalho, a partilha de experiências, a maneira que os outros têm de contornar as situações que vão surgindo ao longo do tempo, e acima de tudo, a forma de como o outro trabalha e executa as tarefas, são ferramentas que vos vão ser muito úteis, não só para o vosso futuro profissional, mas também para vos enriquecer enquanto pessoas.

Outra nota importante: nunca, jamais em tempo algum tenham medo de ser quem são. Não tenham medo de errar, de perguntar, de questionar, de querer saber, de defenderem o vosso ponto de vista, de fazer perguntas, de interromper arrisco-me até a dizer. O meio académico serve para isso mesmo, para ajudar a fortalecer o nosso intelecto.

 

Em relação ao corpo docente e como não podemos gostar de todos de igual forma, existem sempre os professores que mais gostamos, os que menos gostamos, e o mesmo acontece com as matérias e conteúdos programáticos. Faz parte do ser humano, há sempre alguma coisa que não está bem. Nunca se esqueçam é que por detrás de um professor ou até de uma cadeira, está uma pessoa que tem muito amor à profissão, independentemente da maneira que essa informação vos é transmitida. É natural que vos aconteça também, que não gostem da matéria, que pensem que o professor não gosta de vocês, que vão chumbar, que querem desistir, mas lembrem-se sempre que foi uma escolha vossa!

A minha licenciatura acaba por agrupar um conjunto de competências ao nível do ordenamento do território, bem como técnicas ao nível administrativo, cada vez mais voltadas para uma vertente descentralizadora. É um curso com uma vastidão de saídas profissionais, nomeadamente no âmbito da Administração Pública, Administração Central, Administração Autárquica, Planeamento Regional e Urbano, Ambiente, Cultura e Património, entre outras.

Relativamente às expectativas de empregabilidade, cada vez mais me convenço que quando alguém é realmente bom, tem gosto e brio no seu trabalho e sobretudo resiliência, as oportunidades vão surgindo. Sou um pouco suspeita neste aspeto em particular. O “ter emprego” hoje em dia é uma coisa tão vazia. No meu caso concreto, não me imagino a fazer ou a trabalhar da mesma maneira o resto da vida. O que hoje é moda, amanhã é história, portanto sigam as vossas escolhas e vontades.

O conselho que dou a todos os candidatos é que vejam os conteúdos programáticos, e acima de tudo, não julguem a potencialidade de qualquer curso pela média de ingresso, porque a média não passa disso mesmo, um número. Façam valer as vossas aptidões. Aprendam, tenham interesse, participem e sobretudo desfrutem das vossas experiências! O que importa verdadeiramente é que tenham noção e apetência para o mundo lá fora. Se custa? Claro que sim, mas as coisas quando são feitas com esforço e empenho têm um valor acrescido. Afinal de contas, a universidade serve para isso, preparar-nos para a vida.

Bom, e como o tempo é curto, espero ter a oportunidade de nos cruzarmos. Quanto a mim, só mudaria uma coisa no meio deste turbilhão de sentimentos: seria Administração Pública e Políticas do Território a minha primeira e única opção de escolha. A decisão que tomei há um ano atrás foi um acaso, mas acabou por ser o melhor acaso da minha vida!

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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