Hoje mais de 75.000 pessoas realizaram o exame nacional de Português do 12º ano. Há um ano, estava no vosso lugar e, acreditem, a essa hora, eu não me encontrava nervosa: eu era um sistema nervoso em ebulição, uma pilha Duracell, parecia uma panela de pressão ambulante.
Entre ler e reler os meus trezentos mil resumos d’”Os Maias” ou do “Memorial do Convento”, tentar compreender funções sintáticas pela milésima vez e fazer exercícios ininterruptamente, não parava de sobrecarregar o meu cérebro. Pelas 23h, disse: “Chega!” e arrumei tudo. Peguei nas folhas, livrinhos e livros, canetas, lápis… Tudo, coloquei-os a um canto da secretária e fui dormir. Escusado será dizer que passei uma noite em branco, mas aconselho-vos a descansar devidamente.
Os meus Stresscalm entraram em ação uma hora antes de ir para o exame e consegui realizá-lo em condições normais. Claro que, se conseguirem controlar os vossos nervos sem terem que recorrer a calmantes… Melhor!
Tinha uma CIF de 17 e saí do exame com a sensação de que o mesmo me tinha corrido estranhamente bem. “Oh, chega para manter esta nota, tenho quase a certeza disso…!”, pensei. Algumas horas depois, começaram a surgir notícias que fizeram as minhas típicas inseguranças assolarem-me, como algumas onde se li coisas como “Até os professores acham que o exame não tinha perguntas muito diretas, principalmente, naquelas que remetiam ao poema de Sophia de Mello Breyner”. Devo dizer que me senti em pânico, pois o poema “Bach Segóvia Guitarra” havia apelado à minha paixão pela música e à minha veia mais lírica e tinha-me sentido completamente à vontade a responder aos itens propostos.
Até que, em julho, vi um 13 na pauta. Chorei. Chorei demasiado. Como se a controvérsia dos critérios de correção parciais e desiguais não fosse suficiente, requisitei uma cópia da minha prova e vi a minha nota rasurada vezes sem fim, o que indicava a dúvida do corretor. Pedi a reapreciação da prova e obtive um 15. Resultado? Não recuperei a minha CIF e a minha CFD ficou pelo 16. Com menos um valor na CFD de História A devido a um pequeno desastre no exame (estou a exagerar, mas vocês compreendem), a minha média não ficou propriamente aquela que ambicionara.
Portanto, os exames nacionais do 12º não foram, de todo, os meus prediletos. Se me deixaram feliz? NÃO! Se me senti injustiçada? SIM, MUITO! Se repetiria tudo novamente? SIM, SEM DÚVIDA? E porquê? Porque graças a isto, não entrei no curso que pretendia por uma décima, mas hoje sei que estou no curso acertado. E não mudaria nada.
Acreditem que, mesmo nos momentos em que a intempérie parece reinar, vocês ainda são capazes de a ultrapassar, ainda conseguirão sair vitoriosos. Eu sei daquilo que falo porque, ainda hoje e, principalmente, devido ao curso que frequento, acredito que um vocativo, um parágrafo mal feito ou uma vírgula mal colocada, podem ser fatais, mas sabem que mais?
Peguem naquelas folhas e consciencializem-se de que trabalharam imenso durante doze anos para chegarem àqueles minutos tão decisivos! Concentrem-se, tenham calma e arrasem! E, se não tiverem a nota espetacular que sempre desejaram, não se preocupem, existe sempre a 2ª fase. E, se a 2ª fase também não for “muito famosa”, esqueçam, na faculdade entenderão que o exame de Português não passou de um dos muitos obstáculos que ultrapassaram com menos ou mais sucesso! Eu também mandei muitas pessoas “à fava” há um ano, quando me diziam: “Maria, esta nota não te define!”. Entre lágrimas e gritos, respondia-lhes num modo rude: “Tu não me compreendes, sabes lá os dias que passei a estudar sabes lá o que isto significa para mim! Se calhar, nem entrarei em nenhum curso, a minha vida acabou aqui!”. Sim, tenho que admitir que a minha veia dramática torna-se muito saliente aquando dos meus fracassos académicos.
E agora, terminarei este artigo de uma forma muito cliché, mas desculpem, eu sempre nutri uma crush gigantesca pelo poema Tabacaria do Álvaro de Campos (estudaram bem os pseudónimos do nosso querido Pessoa, certo, meninos?): “Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo” – e, por favor, quando os professores vigilantes estiverem a abrir aqueles envelopes intimidantes, lembrem-se daquilo que escrevi e recebam o enunciado do exame com um grande sorriso nos lábios!
Boa sorte!
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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