Alunos oriundos das escolas privadas têm piores notas nas faculdades de Medicina

Estudo conduzido por investigadores da Universidade do Porto concluiu que, apesar dos alunos das escolas privadas entrarem com notas mais inflacionadas do que as dos alunos do ensino público, acabam por ser estes os que têm piores resultados nas faculdades de medicina do nosso país.

Está disponível online desde o fim de março um estudo sobre o sucesso académico dos alunos que entram nas faculdades de Medicina no nosso país, consoante frequentaram uma escola pública ou privada, conduzido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.



Conscientes de que a inflação das notas internas é uma prática conhecida nas escolas secundárias, que ganha uma maior expressão nas escolas privadas, mas que ao mesmo tempo compromete a equidade no acesso às escolas de medicina do nosso país. Referem como é assumido frequentemente que notas internas superiores são justificadas por uma maior preparação dos alunos das escolas privadas em áreas que os exames nacionais não avaliam mas que são importantes. Nesse caso, seria de esperar que os alunos das escolas privadas fossem melhor sucedidos que os seus colegas das públicas, ou pelo menos não tivessem pior desempenho. É com esta base que o estudo foi tentar perceber se, mesmo após o ajuste da inflação das notas internas, os alunos das escolas privadas têm melhor desempenho ao entrar nas faculdades de medicina.

 

Em estudo estiveram 1709 estudantes que entraram nas faculdades de medicina entre 2007 e 2014. Verificou-se que a média no fim do primeiro ano era superior dentro do grupo de alunos oriundo de escolas secundárias públicas, do que das escolas secundárias privadas (13.4 valores vs. 12.8 valores). Esta diferença verificou-se também nos anos seguintes do curso, mas foi-se esbatendo até chegar ao 6º ano, em que não há qualquer diferença entre os dois grupos. Ter frequentado uma escola secundária privada também significa uma maior probabilidade de chumbar a pelo menos uma disciplina do curso no primeiro ano (43% privadas vs. 34% públicas). É uma tendência que também se verifica nos anos seguintes do curso, mas que também se vai esbatendo até ao último ano do curso, em que os dois grupos têm similar resultado.

O estudo conclui que deveríamos estudar detalhadamente a forma de acesso às escolas de medicina no nosso país. Defendem também que urge um debate sobre o papel das escolas secundárias públicas e privadas no processo educativo, bem como uma avaliação do pressuposto das escolas privadas terem padrões de ensino mais elevados e prepararem melhor os seus alunos para o sucesso académico. “Talvez as escolas privadas apenas proporcionem uma vantagem injusta para o acesso a medicina”, referem.

É importante questionarmos o que podemos aprender com o facto dos alunos das escolas secundárias públicas, que têm uma injustiça desvantagem no acesso ao ensino superior, e parecem estar melhor preparados para os requisitos e metodologias de ensino das faculdades de medicina, do que os seus colegas das escolas privadas.

 

O estudo é a responsabilidade de Cristina Costa-Santos, Pedro Vieira-MarquesAltamiro Costa-PereiraMaria Amélia Ferreira e Alberto Freitas.