Desde o 8º ano que sempre pensei que queria ir para medicina. Provavelmente fui naquela de “os bons alunos vão para medicina” ou na de um sonho de criança. Cheguei ao 10º ano e escolhi o curso científico-humanístico de ciências e tecnologias, sendo as minhas bienais Biologia e Geologia e Física e Química A.
Cheguei ao fim do primeiro ano de secundário com média de 178,3. Tinha 19 a matemática e era a minha disciplina favorita, ADORAVA aquilo (sim, eu sei, é estranho). Tinha a certeza que entrava em medicina usando o Contingente Açores!
Sonhava em salvar vidas, admirava os médicos sempre que ia ao hospital ou centro de saúde, sonhava em fazer operações, sonhava com uma vida de “Anatomia de Grey” (sem aquelas tragédias entre eles claro).
Sempre me perguntaram que especialidade queria, como estava a correr o secundário, que universidade queria, as minhas áreas favoritas, de tudo um pouco… E a melhor frase de todas: “um dia ainda hei de ser tratada pela Dra. Rita!” e eu sorria pois (achava que) era aquilo que queria.
Havia dias e noites que começava a pensar se entraria ou não no curso, se teria de usar o famoso Contingente, se conseguiria lidar com toda a pressão e até chegava a sonhar com a noite de colocações.
Havia pessoas que me diziam não entraria no curso, que não gostaria do curso, que seria uma enorme desilusão, que isto e aquilo, mas como diz a sábia Taylor Swift: “haters gonna hate, hate, hate, hate, hate”. No entanto, havia sempre aqueles que me apoiavam e diziam que conseguiria e seria uma excelente médica e etc.
Nas férias do Natal do 11º ano, estava a pensar e FINALMENTE abri os olhos. Apercebi-me que não queria medicina. Milhões de perguntas surgiam na minha cabeça: Mas e agora? O que é que eu quero? O que vou fazer com a minha vida? Para que curso vou? E a pior de todas: E as pessoas? Não, não eram as pessoas que eu sonhava em salvar e tratar, eram as pessoas à minha volta, a quem eu tinha dado esperanças. Tinha uma ansiedade terrível, achava que tinha que decidir naquele dia ou o mundo acabava.
Quando disse aos meus amigos, todos ficaram admiradíssimos. “Mas tu sempre quiseste medicina, Rita! Pensa melhor nesta decisão” Eu estava decidida! Não ia para medicina nem por nada!
Falei com uma amiga que estava em Fisiologia Clínica e pesquisei sobre o curso. Pareceu-me muito bem. Era de saúde, tinha matemática, tinha química, pareceu-me ser aquilo que queria. Comecei a pensar melhor e afinal não queria nada relacionado com saúde, por isso Fisiologia Clínica estava completamente de parte.
Pensei, pensei, pensei e descobri que queria algo que tivesse matemática, MUITA matemática e química, MUITA química e pus biologia completamente de parte.
Abri o site da DGES, cliquei na lista de cursos. Assim que vi a quantidade de cursos existentes neste maravilhoso país, só me apetecia enfiar num buraco… São milhões!!!
“Oh boa… e agora?! Já sei! Vamos por exclusão de partes!” pensei eu, na esperança que fosse uma excelente ideia… Mal sabia eu na embrulhada que me estava a meter… E se não era mesmo aquilo que queria?! Mas e se eu fosse para Direito e gostasse? E se eu fosse para Serviço Social e gostasse? E se eu fosse para Economia e gostasse? Ou Psicologia? (artes não, os meus primos com 3 anos desenham melhor que eu) E se…?
Falei com a minha família sobre a minha desistência de medicina, mas a primeira pessoa com quem falei foi a minha avó, que me disse: “Estava a ver que não dizias! Esses teus neurónios são demasiado virados para a matemática para passar a vida a decorar! Sabia que se fosses para medicina, ias estar lá 2 meses e voltar para casa! Ainda bem que decidiste agora e não depois de já teres entrado.” #AsAvósSabemSempre
A minha explicadora aconselhou-me a ir fazer uns testes psicotécnicos a Lisboa. Falei com os meus pais e eles acharam uma excelente ideia.
Chegaram os exames! 1º exame: Física e Química A: check! Correu bem, as escolhas múltiplas estavam todas certas, estava confiante. Cheguei ao exame de Biologia e Geologia, abri o exame e comecei a rir à gargalhada. Porquê? Percebi que não sabia NADA! Mas lá fiz o exame.
Chegou o derradeiro dia: o dia dos resultados! Física e Química A: 157 (excelente nota tendo em conta a desgraça que foi neste ano). Biologia e Geologia: 106. Já sabia que ia ser assim, tinha descartado a biologia completamente e não fiquei nada preocupada porque, como diz a minha professora de Português, “a nossa escola não está para fechar e se fechar, existem mais escolas na ilha”.
Fiz os tais psicotécnicos, recebi o resultado e descobri que a minha parte forte é o raciocínio lógico e o que é monótono dispersa-me, por isso, visto que gosto mais de Matemática e Física e Química A, a psicóloga aconselhou-me para as engenharias, sendo que MUITO IMPORTANTE, tenho que ver sites com testemunhos de profissionais de várias áreas e várias profissões, etc.
Imprimi a lista de todas as engenharias em Portugal e comecei a riscar. Engenharia Aeroespacial? Não. Engenharia Civil? Não. Engenharia Biomédica? Não me parece mal, não vou riscar. Engenharia Mecânica? Nem por isso. Engenharia Química? Seems fine.
Fiquei com 2: Engenharia Biomédica e Engenharia Química? E ainda tinha outra coisa a decidir: Lisboa, Porto, Coimbra, que cidade?
Isto de ser ilhéu tem os seus benefícios, mas também tem as suas desvantagens… vir a casa é muito complicado, e por isso Lisboa torna-se a nossa cidade de eleição, porque tem muito mais voos do que o Porto.
Depois de muito trabalhinho de casa, cheguei à grande decisão: Engenharia Química ou Engenharia Biomédica? Fiquei com essa indecisão durante bastante tempo, mas como ainda tinha o 12º ano pela frente, não me preocupei muito.
O ano correu-me mesmo bem, meti-me em 1001 projetos, nunca parei, em março fui à Futurália (conselho: VÃO À FUTURÁLIA! FALEM COM ALUNOS, PROFESSORES, FALEM COM TODOS!!!), e foi aí que tudo se tornou mais claro. Engenharia química, está decidido.
Chegou a altura dos exames, decidi repetir Física e Química A (call me crazy) e fazer Português e Matemática A, claro, concentrando-me sempre mais na Matemática porque é prova de ingresso.
Estudei horrores, fiz mais de 1000 exercícios de matemática (não, não estou a exagerar), revi a matéria de FQ-A e estudei um bocadinho de português.
Primeiro exame: Português. O amiguinho IAVE decidiu mudar a estrutura, mas até correu bem. Segundo exame: Física e Química A. Estava a fazer aquele na desportiva, mas até não correu mal. Terceiro e último exame: Matemática A. Foi, nada mais, nada menos do que PÉSSIMO. Saí de lá lavada em lágrimas de frustração, suei como nunca tinha suado naquele exame, já estava capacitada mentalmente que ia ficar a fazer melhoria de matemática.
Dia dos resultados: YAY #not. Português: 148, razoável. Física e Química A: 154, vim pra fazer melhoria e piorei 3 décimas… boa, Rita. Matemática A: 129, melhor do que esperava, mas terrível para mim. Sou extremamente perfecionista e vim a exame com média de 19, como é possível?! Isto estragou a minha média…
Depois de muita teimosia, decidi experimentar a 2ª fase. Não estudei a ponta de uma página e mesmo assim tive 19, fiquei mesmo feliz, agora mostrei o que valho.
A minha candidatura tinha apenas 3 opções: Engenharia Química no IST, Engenharia Biológica no IST e Engenharia Química na FEUP.
Passaram 33 dias, 790 horas (aproximadamente). Chegou o tão aguardado dia: COLOCAÇÕES!! Fiz refresh no meu email milhões de vezes, acho que o meu botão F5 ainda está meio encravado.
Fiquei em Engenharia Química no Técnico! Primeira opção! A felicidade é enorme!
Agora chegou a parte mais difícil: mudar de casa, de cidade, de vida, as despedidas… Até ao Natal, casa!
Acreditem que tudo se vai resolver, se não for hoje, é amanhã! Sejam felizes!
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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