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Progresso e Processo de entrada no Ensino Superior pelos Maiores de 23 anos


É reconhecido que a entrada no Ensino Superior pode revelar-se complicada, sobretudo com concursos diversificados para o mesmo tipo de instituição, curso ou até área de interesse. Nesse sentido, e como aluno que ingressou no seu percurso académico por duas vias de acesso, venho com este artigo partilhar um pouco da minha experiência enquanto recém-chegado pelo concurso de Maiores de 23 na área da Linguística.

Por que razão escolheste o concurso de Maiores de 23 para ingressar na Faculdade?

Após um longo interregno do Ensino Superior (já que me encontro, de momento, numa segunda licenciatura), decidi voltar a desenvolver as minhas capacidades académicas, sobretudo na minha área de interesse – e o problema de garantir os meus conhecimentos nos exames nacionais era bastante diminuta, dada a minha inexperiência com os materiais do Ensino Secundário. Nesse sentido, e já com idade adequada para ingressar por este concurso especial, decidi verificar todas as condições de inscrição. Dada a compatibilidade dos requisitos com a minha situação atual, sobretudo por causa da ausência de provas de ingresso válidas, investiguei que bibliografia seria necessária para me preparar para as provas. Foi, assim, uma forma bastante acessível de um novo acesso ao Ensino Superior.

De que forma te preparaste para as provas?

Felizmente, a maioria das instituições providenciam a bibliografia adequada para o acompanhamento do nosso estudo, bem como provas-exemplo de anos anteriores para obtermos um guia para definirmos o que realmente é mais essencial para foco no estudo. Desse modo, permitiu que previsse muito do que seria de esperar para uma prova que, embora seja comummente associada a uma versão facilitada de um exame nacional, não é propriamente o que acontece, especialmente quando o corrector é docente da instituição de Ensino Superior a que nos candidatamos – e a exigência do Ensino Superior é, de forma categórica, exponencialmente diferente. Assim, e apesar da aparente facilidade de uma prova de Maiores de 23, é importante não menosprezar os tempos de estudo necessários, definindo prioridades de estudo aquando da aproximação da data de prova.

É, no entanto, prática geral haver uma prova geral de conhecimentos (que se baseia na nossa compreensão e produção escritas, seja em Português ou em Inglês) e a prova específica em si, adequada à área de estudos em que pretendemos ingressar. Para além disso, muitas instituições requerem uma entrevista com carácter obrigatório, especialmente dedicada para definição do perfil do candidato, bem como os reais intentos e motivações para ingressar no curso escolhido.

 

Como se desenrolou o processo do Concurso para Maiores de 23 anos?

O concurso para Maiores de 23 anos foi, no meu caso, bastante demorado. Após a inscrição, revendo todos os requisitos necessários para que efectivasse a minha intenção, foi publicado um calendário a especificar as datas das provas, bem como todos os prazos-limite para o lançamento de notas. Em caso de aprovação em ambas as provas escritas (geral e específica), dá-se prosseguimento a uma entrevista ao candidato, que também é alvo de avaliação – por vezes, esta entrevista é uma forma de desempate entre possíveis futuros alunos que lutam por um número limitado de vagas (estas estão sempre dependentes do número de vagas alocadas ao curso no Concurso Nacional de Acesso).

Referindo-me em específico ao processo de avaliação, as provas escritas tiveram lugar no mesmo dia, dando um espaço de três horas para a resolução de ambas, com um intervalo de 15/20 minutos entre avaliações. Fomos encaminhados para uma sala de aula na própria instituição, onde foram cedidas as provas – apesar da formalidade do processo de avaliação, senti uma menor tensão quando comparada com a de um exame nacional. Não é, mesmo assim, permitida a ausência em decorrer da prova.

Após a aprovação nas provas, é-nos referida uma data e horas específicas para uma entrevista (que, em contexto pandémico, teve de ser realizada pela plataforma ZOOM) – esta entrevista tem um grande propósito de teste às nossas capacidades criativas, já que requer um grande exercício mental para uma resposta instantânea a perguntas relativamente complexas. Avaliam, primeiramente, o nosso perfil de candidato (já que devemos encaminhar o nosso Curriculum Vitae em anexo no processo inicial de inscrição, bem como uma carta de recomendação direccionada à própria instituição), bem como as diferentes motivações para o ingresso no curso em questão, e especificamente pelo concurso dos Maiores de 23, relacionando o nosso anterior percurso académico e profissional ao novo contexto universitário em que pretendemo-nos inserir. A entrevista foi, na sua maioria, conduzida por uma psicóloga especializada, havendo um parecer final da directora de curso, dedicando algumas palavras decorrentes da análise do candidato, indicando a pertinência (ou não) da nossa participação neste concurso baseado nas nossas experiências e aspirações pessoais. Infelizmente, uma nota não é referenciada no fim da entrevista, pelo que é necessário mais um compasso de espera até à etapa final, onde é finalmente esclarecido se a nossa prestação esteve à altura de ocupar umas das vagas disponíveis para o curso em causa.

Sentiste algum tipo de dificuldade no processo? Como foi a integração na Universidade após a colocação?

A maior dificuldade com que lidei no processo foi a orientação do próprio estudo – apesar de ter a necessária acessibilidade aos materiais, foi-me difícil conceber formas de estudo após alguns anos de interregno académico. Mesmo assim, o facto de serem disponibilizados exemplos de provas de anos anteriores garante uma maior clareza do que realmente poderá ser objecto de avaliação (embora não seja totalmente fiável). De qualquer modo, a instituição de ensino tem, na maioria das vezes, iniciativas de apoio ao estudo, tanto com oficinas e ateliês de estudo especialmente dedicados a áreas críticas do conhecimento, como a escrita, a matemática e gestão de tempo e métodos de trabalho. No nosso caso, também foi-nos proposto o auxílio para a redacção de um bom Curriculum Vitae e carta de motivação, embora todos estes recursos extra carecessem de um pagamento extra, infelizmente não incluído no preço da inscrição.

 

Quanto à integração em ambiente académico, não existem rótulos de candidatos de Concurso Nacional de Acesso e de Maiores de 23, pelo que entramos todos em pé de igualdade de oportunidades e de capacidades. Para além disso, a comunidade académica recebeu-me com grande amistosidade, e a diferença de idades não impossibilitou a minha integração enquanto aluno, já que o contexto universitário permite a diversidade de experiências. Para referência, o meu curso alberga actualmente um senhor sexagenário que, com toda a naturalidade, foi imbuído no espírito académico. Bastou, claramente, que o senhor se expandisse aos colegas – por isso, os nossos receios não devem ser o pior dos problemas para a integração.

Alguns conselhos extra para quem está a preparar-se para este Concurso?

Escolher muito bem a área em que se pretende ingressar, já que só existe uma oportunidade por ano. Também recomendo pesquisar por todas as possibilidades e materiais de apoio ao estudo para além da bibliografia recomendada – se houver necessidade de algum tipo de auxílio ao estudo, nomeadamente explicações específicas para o efeito, recomendo vivamente. Para além disso, saber utilizar bem o tempo, sobretudo se estivermos a falar de pessoas com menor disponibilidade horária devido a motivos pessoais e/ou profissionais. Finalmente, também recomendo a partilha das tuas intenções em participares no Concurso no fórum Uniarea, já que, muitas das vezes, muitas das nossas dúvidas específicas conseguem ser lá resolvidas, particularmente quando este tipo de ingresso é, cada vez mais, uma proposta viável e alternativa ao concurso geral de acesso.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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