Maria João Bobone: “Os jovens ganham conhecimento, perceção do mundo, resiliência e adaptação, coisas que fazem toda a diferença!”

Maria João Bobone, Diretora do Programa INOV Contacto. Foto da AICEP Portugal Global.

“Aposta numa experiência profissional, cultural, remunerada e marcante!” – este é um dos motes do INOV Contacto, um programa de estágios profissionais internacionais que, desde 1998, já promoveu a internacionalização de 5343 jovens licenciados. Até 4 de outubro 15 de outubro (novo prazo), podes tentar a tua sorte na 23ª edição do programa que promete “reforçar equipas com talento português”. O Uniarea esteve à conversa com Maria João Bobone, diretora do INOV Contacto há 11 anos, para esclarecer as tuas dúvidas!

 

Maria Moreira Rato (MMR): É diretora do programa INOV Contacto desde 2007. Quais foram os maiores desafios com que se deparou até hoje?

Maria João Bobone (MJB): Um programa que existe há mais de 20 anos e que tem passado por diversas conjunturas governamentais, mantendo-se como objeto de grande interesse, demonstra a sua eficácia e capacidade de superação e continuidade..

 

É importante realçar que as empresas que têm aderido ao programa tornam-se fiéis ao mesmo: se pensarmos que já foram realizados cerca de 5.300 estágios ao longo de 20 anos e que 1.100 entidades já receberam estagiários, entendemos que em média, cada entidade já acolheu cinco jovens. Há entidades novas todos os anos e algumas que concorrem uma vez e não voltam a fazê-lo por motivos vários, mas algumas estão connosco desde o início!

Por outro lado, temos de nos ajustar a expetativas diferentes dos candidatos: há 20 anos, fazer um estágio noutro país durante seis meses não era propriamente fácil, enquanto hoje em dia, diria que quem deseja aventurar-se e tem uma ideia concreta daquilo que quer, fá-lo facilmente, quer seja através de uma candidatura espontânea ou de uma entidade que tenha um programa de estágios muito específico.

Por isso, temos tido a preocupação de nos irmos adaptando e captando um grupo-alvo diferente: no início, focávamo-nos nas pessoas que realmente queriam trabalhar no estrangeiro e não tinham meios para tal, mas hoje vamos à procura daquelas que pretendem ter uma experiência no estrangeiro mas não têm uma ideia concreta e, deste modo, continuam a querer recorrer aos nossos serviços – porque existe uma cobertura, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que os ajuda e que lhes dá alguma segurança e conforto, independentemente daquilo que farão.

Uma das características do programa, algo que nos diferencia dos outros programas que existem no mercado, é o facto de que quando um candidato se inscreve, não sabe para onde irá e nós é que fazemos o match – implica um voto de confiança por parte dos candidatos, mas as estatísticas referem que 98% dos contacto’s gosta ou aceita o estágio que lhe é oferecido e, no final da experiência, refere essa peculiaridade como positiva – ou seja, a aventura implícita nesse desconhecimento é um fator de atratividade.

 

 

MMR: Numa entrevista ao Fundo Social Europeu, referiu: “(…) estamos a contribuir para a formação de uma nova geração de jovens portugueses mais orientados para fora, com experiência real para aumentar o estatuto internacional das nossas próprias empresas”. Em 20 anos de INOV Contacto, acredita que os jovens que iniciam uma carreira no estrangeiro promovem a melhor imagem do nosso país no resto do mundo? Qual é o feedback das entidades de acolhimento?

MJB: Alguns estagiários não voltam ou, pelo menos, não voltam imediatamente porque são convidados a permanecer no país de acolhimento pelas respetivas entidades – o programa tem esta vantagem, pois 40% dos jovens que integram o INOV Contacto são convidados a trabalhar no estrangeiro.

De qualquer forma, todos os estagiários obtêm um conceito de internacionalização muito solidificado, de tal forma que muitos voltam mais tarde a aceitar um desafio de carreira internacional. Dos cerca de 5000 que já participaram neste programa, entre 25 e 30% não estão a trabalhar em Portugal – sendo que não são sempre os mesmos, há uma massa circulante – o que significa que estas pessoas adquirem um conjunto de competências que lhes facilita muito o ingresso no mercado de trabalho noutros países.

Todos eles, quer os que regressam, quer os que ficam ou voltam mais tarde aos mercados externos, renovam e reforçam continuamente a imagem de Portugal onde quer que estejam, e transformam-se a partir de vários pontos do mundo em que se encontram, em catalisadores de oportunidades para Portugal, dada a experiência realizada.

 

MMR: Para criar uma rede de contactos, a AICEP contacta os parceiros internacionais ou também recebe pedidos de colaboração?

MJB: Desde o início, que nos aliámos a universidades reconhecidas e de mérito, como a Universidade Católica, a Universidade Nova, o ISCTE e outras, para conseguirmos adquirir prestígio e conquistar através dele entidades de potencial interesse quer em Portugal, quer lá fora. Hoje, o programa já tem um “nome” e são as próprias entidades nacionais e estrangeiras que vêm ao nosso encontro.

De qualquer forma, a AICEP tem uma base de dados de clientes muito alargada e uma rede de 50 delegações espalhadas pelo mundo; através das quais sempre que damos início a uma nova edição do programa, a disseminamos junto das entidades de interesse dos mercados externos.

Há muitas entidades que são recorrentes e, todos os anos, são alertadas para a abertura das candidaturas dado o seu historial de participação ser considerado interessante.

 

MMR: O INOV Contacto aceita candidaturas de licenciados em todas as áreas. Contudo, acredita que licenciados em áreas como a engenharia, a gestão, as novas tecnologias ou o marketing, consideradas áreas preferenciais, têm mais sucesso aquando da realização dos estágios?

MJB: Este programa tenta realizar o “casamento” ideal entre a oferta e a procura e, por isso, tentamos que as entidades nos deem os perfis pretendidos e tentamos conjugá-los o melhor possível com os perfis dos candidatos, para conseguir o match mais aproximado para cada caso!

Ao princípio, recebíamos um grande número de candidaturas de – jovens provenientes das áreas da Gestão, da Economia e das Engenharias e tínhamos umas “franjas”, por assim dizer, noutras áreas. Atualmente, “abrimos” as candidaturas a todas as áreas de formação, dado que o panorama está a alterar-se e por exemplo, a área que atualmente está a crescer mais, é a das Ciências Sociais – mais abrangente e aberta em termos de aquisição de conhecimentos.

 

MMR: As antigas áreas preferenciais eram-no por se inserirem em mercados estratégicos?

MJB: Como já não recebemos tantos candidatos das antigas áreas preferenciais, pois esses atualmente procuram programas de internacionalização específicos para as suas áreas, estamos a focar o espectro noutro tipo de candidatos.

Quando elencamos as entidades, selecionamos aquelas que nos parecem mais estratégicas em termos de internacionalização, adequando os objetivos do Programa com os da  AICEP , e assim trabalhamos com as empresas que operam nos mercados  mais atraentes e interessantes desse ponto de vista, sendo que  tudo se interliga, pois se as entidades que concorrem ao programa são nossas clientes, já se encontram alinhadas.

É um caminho que se vai trilhando – já tivemos determinados países no top dos mais procurados como destino de estágios pelas entidades que hoje já não o são, e outros que surgem como mais apelativos!

Por exemplo, Espanha é o país para onde enviamos mais estagiários, por razões como a proximidade geográfica e as elevadas trocas comerciais. Contudo, o segundo país (quase ex-aequo com Espanha) são os EUA, por ter uma abrangência de todo o tipo de produtos e um forte dinamismo comercial.

 

MMR: Como é que descreveria o funcionamento do Campus INOV Contacto?

MJB: O Campus INOV Contacto é um momento importante no início de cada edição, que tem como principal finalidade providenciar formação que permita aos jovens que vão partir, adquirirem conhecimentos e contacto com outras experiências, que sejam de valor e de ajuda durante o período em que estarão fora.

Participantes da última edição do programa no Campus INOV Contacto. Foto da AICEP Portugal Global.

 

MMR: Esta experiência prepara bem os jovens para os estágios internacionais?

MJB: Juntamos os futuros estagiários a empresários que estão muito ligados à internacionalização, a representantes de entidades de acolhimento que irão receber estes jovens, a contacto’s de anteriores edições que falam da sua experiência e de como ultrapassaram as adversidades, a empreendedores, a especialistas em determinados mercados menos parecidos com Portugal que explicam as principais diferenças culturais, forma de estar nas empresas, etc., ou seja, abordamos todo um conjunto de temáticas para que se preparem para estarem o mais disponíveis a aproveitar a vivência que se segue,  , e com ela obterem ensinamentos proveitosos para a sua vida futura e, assim, tirarem o melhor partido deste projeto.

 

MMR: Que feedback têm recebido por parte dos estagiários nos seminários de encerramento e apoio à integração?

MJB: Este seminário é uma sessão de trabalho informal em que o objetivo é, por um lado, que os jovens se reencontrem, partilhem as suas experiências e, para tal são selecionados alguns daqueles cujo estágio tenha sido de particular interesse, ou fora do habitual.

Por outro lado, pretendemos nesta sessão de encerramento, fornecer mais elementos sobre como podem aproveitar o estágio que agora termina, para o seu futuro, isto é, como podem capitalizar a experiência realizada quer em termos profissionais, quer pessoais, constituindo assim um momento de apoio à integração na vida ativa, gestão do regresso. Podemos dizer que o INOV Contacto  não termina aqui, pois todos os contacto’s integram uma plataforma intitulada NetworkContacto no momento em que iniciam o estágio, na qual se podem manter ativos (se assim o entenderem) e ali, são divulgadas com periodicidade semanal oportunidades de emprego, notícias, e um manancial de informação relevante para esta comunidade; é uma rede social profissional  restrita aos estagiários INOV Contacto.

Constitui a oportunidade de avaliando e resumindo a edição de estágio efetuada, de demonstrar aos jovens o valor da experiência efetuada, mas também a necessidade de rentabilização da mesma, de forma a poder ser potenciada para que dê frutos.

 

MMR: O INOV Contacto é promovido, gerido e executado pela AICEP, apoiado pela União Europeia e está enquadrado no Plano Nacional de Implementação de uma Garantia Jovem. Acredita que o programa é devidamente reconhecido?

MJB: Penso que é muito reconhecido do ponto de vista das entidades e, para isso, basta observarmos o grau de fidelização elevado pelas mesmas. Temos no entanto o desafio de captação dos jovens, que  todos os anos  constituem  um target novo a abordar, ou seja, comunicamos para pessoas que estão a acabar a sua licenciatura e, na sua grande maioria é agora que começa a pensar  “o que é que vem a seguir?”, pois até aqui nunca tinham sentido essa necessidade, e por isso não têm conhecimento do Programa,.

Temos muitos contactos com universidades e outras instituições de ensino superior, que nos convidam para participar nas suas iniciativas de divulgação de oportunidades, e apostamos também muito na divulgação digital, reforçando e adequando a forma de nos fazermos mais próximos do nosso alvo, , o que já não acontece com as entidades que nos conhecem e muitas nos procuram por sua iniciativa.

 

MMR: Que conselhos deixa aos candidatos da próxima edição do INOV Contacto?

MJB: A recomendação que faço é que leiam atentamente a informação disponível no site do INOV Contacto, porque está lá tudo aquilo que é necessário e este ano reformulámos o site para que a informação esteja mais fácil de encontrar, e de forma mais fluída e simples!

 

MMR: Quais são as perspetivas para esta edição?

MJB: Até agora, recebemos quase 2.000 e-mails de potenciais interessados- colocamos um alerta no site antes de abrirmos as candidaturas, onde aqueles que pretenderem saber quando estas ficam disponíveis, se podem inscrever para o efeito- e esperamos receber um número próximo dessas manifestações de interesse  de candidaturas,  em linha com os anos anteriores. No entanto, infelizmente, o número de candidaturas válidas é bastante inferior.

Maria João Bobone a comunicar com os participantes no último Campus INOV Contacto. Foto da AICEP Portugal Global.

MMR: Como descreveria este programa em poucas palavras?

MJB: Gostaria de acrescentar que o INOV Contacto é uma oportunidade que proporciona uma enorme mais valia e uma possibilidade de transição para um nível superior da carreira profissional dos jovens que a integram, e que, a consideram como uma experiência muito positiva mesmo nos casos em que a componente profissional não era exatamente aquela de que estavam à espera.

Os jovens ganham conhecimento, perceção do mundo, resiliência e adaptação, coisas que fazem toda a diferença! Todos os jovens com formação superior – e que tenham até 29 anos – devem considerar esta possibilidade e não deixá-la escapar!

 

5 erros frequentes cometidos nas candidaturas e como evitá-los:

1 – Submeter a candidatura sem os certificados de habilitações académicas e de conhecimento de língua inglesa

Segundo Maria João Bobone, “cerca de 50% dos candidatos faz candidaturas sem todos os requisitos necessários, por exemplo, não anexa o certificado de conclusão da licenciatura ou o comprovativo da realização do exame de conhecimentos de inglês e isso é fundamental” – para que não te depares com este obstáculo, certifica-te de que anexas o certificado de conclusão de grau académico e o certificado/teste de Inglês obtido junto de um agente oficial da Universidade de Cambridge ou de uma escola de línguas certificada pela  Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) ou pelo Ministério da Educação.

 

2 – Pretender integrar o programa estando empregado

De acordo com o site do INOV Contacto, os jovens têm de se encontrar em situação NEET “no momento de aceitação ao convite para integração no programa”, ou seja, apenas têm de provar que se encontram desempregados e que não estão a estudar quando receberem a confirmação de que foram selecionados para o estágio.

 

3 – Candidatar-se ao INOV Contacto sem ter terminado a formação superior

Todos os candidatos devem possuir qualificação superior concluída (ISCED 5): licenciatura (180 a 240 ECTS) ou mestrado integrado (180 a 360 ECTS). Na candidatura o certificado a anexar é o da licenciatura – com média final de curso e data de conclusão – sendo que se o jovem tiver mestrado ou pós-graduação deve anexar os comprovativos de “formação avançada” no fim da candidatura.

 

4 – Acreditar que pode escolher a entidade de acolhimento e/ou o país de destino do estágio

Tal como se pode ler no site do INOV Contacto, “quem faz o match entre os candidatos aptos e as entidades de acolhimento de estágios/países de destino é a AICEP”. Segundo a organização, 90% dos jovens que já confiaram neste processo ficaram satisfeitos no fim.

 

5 – Submeter a candidatura fora do prazo estabelecido

A diretora do INOV Contacto faz um apelo aos candidatos: “Não se candidatem no último dia, porque não conseguem adquirir todos os elementos para submeter a candidatura à última da hora. Entre julho e 4 de outubro 15 de outubro (novo prazo), existe muito tempo!”.

 

Convencido? Podes encontrar aqui o testemunho da Inês, que publicámos anteriormente, bem como o da Raquel e o do Pedro, que também passaram pelo programa. As candidaturas já estão abertas e podes concorrer até às 16h do dia 4 de outubro 15h do dia 15 de outubro (novo prazo): http://www.portugalglobal.pt/PT/InovContacto/Paginas/InovContactoHomepage.aspx

 

Artigo elaborado em parceria com: